Cada um em seu ofício
Tem sido muito comum o uso, especialmente em palestras motivacionais, mas até mesmo em pregações religiosas, o uso de uma cativante narrativa sobre um menino humilde que teria provado em sala de aula a existência de Deus e deixado o professor ateu em maus lençóis diante da classe inteira. Com o tempo o texto foi ganhando adaptações mil, com alguns oradores dando ao tal menino até o nome de Albert Einstein, reconhecidamente um dos gênios da humanidade, para justificar como alguém tão sem estudo conseguiu suplantar o letrado mestre. Pois saiba que esta é uma das mais antigas fake news da história, mas que, ao contrário da maioria das que são disseminadas diariamente aos borbotões nas redes sociais nos tempos atuais, dependendo de como é encarada tem a capacidade de clarear nossa mente para determinadas verdades incontestáveis. Faço esse preâmbulo para entrar no assunto do dia: a decisão do juiz Eduardo Villa Coimbra Campos de não atender ao anseio de dois promotores públicos que, ao serem provocados por três sindicatos de servidores públicos, dedicaram preciosas horas de serviço bem remunerado para elaborar uma petição destinada a levar centenas de estabelecimentos comerciais de Cascavel a fecharem novamente as portas, o que certamente implicaria em mais um expressivo número de demissões de trabalhadores que não só ganham apenas uma pequena fração da remuneração da nata do funcionalismo público, mas também não têm o privilégio da estabilidade. A reabertura gradativa do comércio foi decidida pelo COE (Centro de Operações de Emergência), que é o órgão com poder legal para tanto por uma razão óbvia, mas que, neste caso, parece ter passado despercebida dos autores da ação: o fato de ser integrado por pessoas que entendem de saúde tanto quanto um promotor público entende de direito. A pandemia não acabou, é bem verdade, mas radicalizar no seu tratamento não é garantia nenhuma de êxito. Até porque, como demonstrou ao mundo há meio século o médico suíço Paracelso,"a diferença entre o remédio e o veneno é a dose".