EAD com planejamento, inclusão e seriedade
Requião Filho
Diante da pandemia que enfrentamos, novos desafios foram criados. Um deles, da maior importância, é o de manter a educação de crianças e adolescentes com qualidade.
O ensino à distância, já há muito propalado entre adultos, passou a ser, aparentemente, a opção menos traumática para levar conhecimento, de forma democrática, a todos os estudantes.
Mas nem só de boas ideias vive a humanidade, pois toda transformação exige planejamento de forma eficaz para atender, de fato, o que ela se propõe.
No Paraná, que é um Estado que não tem o planejamento como prioridade, mas sim apenas a propaganda, resolve-se implantar, às pressas, de forma temerária e precária o ensino à distância. Sem planejamento, sem qualidade e sem equidade.
Daí me perguntam: deputado, o Sr. é contra o ensino à distância?
Respondo: sou a favor, quando bem planejado e quando utilizado de forma a democratizar o acesso ao ensino. Mas, infelizmente, da forma que o Governo do Estado escolheu para implantá-lo, sou contra e demonstro os motivos.
Sou contra porque se tornou uma ferramenta de exclusão aos alunos menos favorecidos. Foi implantado sem nenhuma preocupação com o acesso destes estudantes ao material, sendo que nem livros didáticos estão disponíveis a todos. Além disso, o aceso à internet no interior do Estado é precário. Não existe um smartphone na realidade de cada criança.
Não venham me dizer que"hoje em dia todo mundo tem acesso a um smartphone e a televisão?, pois sabemos que a realidade da grande maioria das famílias paranaenses não permite multi telas, tampouco leva em conta a existência de múltiplas crianças em um mesmo lar, nos mais diversos níveis do ensino fundamental. Como em uma casa, por exemplo, que tenha seis crianças, cada uma em um período escolar, que possua uma única televisão e apenas um celular, o ensino à distância, conforme implantado hoje no Paraná, não funciona. Se torna inviável!
Temos famílias dos mais variados poderes aquisitivos que frequentam as escolas públicas, e se o ensino à distância não chega a uma única criança do Estado, ele não atende a democratização da educação.
O EAD pode até funcionar para adolescentes e adultos, não acredito que funcione para crianças, que dependerão de seus pais e responsáveis para acesso e orientação nas suas tarefas diárias escolares, sendo que estes, além de não possuir estrutura, não possuem formação para auxiliar os filhos. Tarefa esta hercúlea até mesmo para professores capacitados.
Sou contra o ensino à distância que remete aos alunos que busquem no material didático determinada orientação, sendo que grande parte dos livros não foram entregues.
Por fim, sou contra o ensino à distância apenas para fingir que o Governo do Estado fez alguma coisa. Resta claro que o Governo não planejou, não pensou na execução e tampouco pretende atingir qualidade de ensino com este programa.
Fico em dúvidas de qual seria a real motivação do Governo quando gastou quase 30 milhões de reais, sem licitação, em plena crise de saúde. Será que este programa não possui objetivos outros que não seja uma solução para educação?
Escola só é escola se for conduzida com planejamento, seriedade e democracia. Professores, Governo, Pais e Alunos, lado a lado, devem decidir os rumos a serem trilhados.
Defendo, ao lado dos inúmeros professores e pais que me procuraram insistentemente nesta semana, um ensino de qualidade e de equidade. Entretanto, agora, nesse momento, devemos preservar a saúde dos estudantes paranaenses. Depois, ao retorno das aulas, que se faça uma nova reorganização do calendário, junto com a comunidade escolar.
Mais uma vez o Paraná faz algo que deveria ser bom, de forma ruim, deixando pais, professores e alunos à própria sorte.
Requião Filho é deputado estadual pelo MDB