Colapso global
J. J. Duran
Vai nascendo um novo e distinto mundo. O coronavírus está fazendo a humanidade perceber que as bases pelas quais vínha transitando vão se derretendo. Por conta disso, temos o desafio de pensar em novas alternativas para nos adiantar à nova realidade gerada por esta peste oriunda da China.
Sem demora ficarão muito mais perceptíveis os escombros deixados por esse difícil momento na economia de mercado e no sistema político, bem como e a caducidade dos projetos futuristas.
Restará demonstrado que aqueles avanços da nova comunicação, quase surreais, não só não são capazes de salvar a humanidade como, às vezes, complicam as relações entre pessoas e nações.
O jornalismo adversativo terá que repensar seus objetivos já que nada lhe permite asseverar a bondade das fontes e a vida da notícia. Tudo está se dissipando como a fumaça de uma fogueira qualquer.
Entramos, enfim, em um novo tempo da verdade, pois a peste sepultou as inverdades, o sacro egoísmo de muitos que acreditaram haver encontrado a felicidade terrena. A verdade, agora, terá de ser pensada e distribuída a conta-gotas, já que tudo está se transformando.
Há que se fazer uma reflexão sincera, um global mea culpa de tudo que fizeram de equivocado os adoradores da omissão cotidiana, que apostaram todas as fichas na riqueza material e estão sendo devorados por um ser que, de tão pequeno, não é sequer visível aos olhos humanos.
Hoje temos a noção de que a utópica vivência na "aldeia global" foi modelada por aqueles que, enlouquecidos pela materialidade da vida, esqueceram de Deus, o mesmo a quem hoje todos recorrem em busca de um milagre que nos permita continuar vivendo.
Mais do que em um vale de lágrimas, estamos em um oceano de náufragos desesperados para chegar à praia chamada amanhã.
Para Karl Jaspers, um dos fundadores da filosofia existencialista, a experiência de uma situação limite dá origem a perguntas que habitualmente não fazemos, e é exatamente o que se passa hoje com a humanidade em geral.
Com mais de 90 anos de idade, posso dizer que a vida se encarregou de me ensinar que, como diz o Alcorão, no livro da vida de cada um de nós há uma página em branco que simboliza o nosso fim, mas só Deus sabe qual é o seu número.
J. J. Duran é jornalista e membro da Academia Cascavelense de Letras