Os hipócritas
J. J. Duran
Os presidentes com biografias normais de muitas das repúblicas indoamericanas têm rasgos pessoais muito parecidos. Quando viajam em missões oficiais aos EUA, mostram extrema cordialidade com seus interlocutores ocasionais, fazem piadas de diferentes tonalidades, se autoelogiam nas reuniões de trabalho e tiram fotografias sorrindo milimetricamente como demonstração de alegria pelo momento.
Porém, detrás desse aparato litúrgico sempre fica a figura de Donald Trump e suas secretas diretivas de comportamento aos seus admiradores indoamericanos.
Os diplomatas que acompanham esses périplos noticiados amplamente se cuidam para não falar, e quando o fazem publicamente dizem tudo ao contrário do que pensam. Muitos deles se queixam em conversas privadas que seus presidentes falam muito, não dizem nada e quando dizem algo é motivo certo para desmentidos ou alegações de mal entendido.
Certa vez acompanhei o presidente argentino Arturo Illia em um desses giros internacionais. Em conversa quase paternal, ele me disse que"nessas ocasiões devemos exercer a arte da hipocrisia, que tem destacado valor nas relações internacionais".
Lembrei ter lido que Platão acreditava que"os governantes são os únicos que têm o privilégio de mentir". Mas alguns desses condutores políticos da atualidade mentem com tanta assiduidade que até parecem transformar suas mentiras em verdades inquestionáveis.
Nesse mundo conturbado das relações internacionais, o tema econômico tem prioritária importância. Quase a totalidade dos países indoamericanos têm laços indissolúveis e contas pendentes com o capitalismo internacional.
E nesse tempo de velocidade alucinada imposta pela tecnologia à comunicação, cada gesto e cada palavra pronunciada fora de contexto por um mandatário produz um estrago nas finanças do seu país.
Apesar disso critica-se a autenticidade e aplaude-se sem pudor os hipócritas que pululam neste hipermoderno mundo político.
J. J. Duran é jornalista e membro da Academia Cascavelense de Letras