O presidente e a representação política
J. J. Duran
Vozes apressuradas, que pensam pouco e falam muito, vociferam que existe uma virtual ruptura do sistema democrático com base nas declarações feitas recentemente pelo presidente Jair Bolsonaro convocando a população para as manifestações públicas programadas por seus apoiadores para o próximo dia 15.
Na realidade, o formato imprimido pelo ex-capitão à sua forma de governar e de se relacionar com os outros poderes da República segue um sistema chamado de representação política e devemos levar em consideração fatos marcantes das últimas décadas, que mostraram a desconformidade do povo com as chamadas elites representativas.
Essa divergência começa já na seleção dos candidatos majoritárias, feita por cúpulas fechadas ou teledirigidas com base no mais estranho subjetivismo, quando não de paternalismo deslavado, e privilegiando figuras com conduta que degrada a ética necessária ao exercício dos mandatos.
Biografias engolidas por delitos marcantes da gestão pública nos conduziram a um momento que obriga aos velhos pensadores da democracia a rever conceitos em busca de um novo vetor para atualizar, no eleitor, como uma nação democrática deve ser dirigida de forma a atender a todos, não apenas aos apoiadores do presidente de plantão.
Com seu discurso tosco e de vocabulário político limitado, Bolsonaro não economiza empenho na defesa de suas convicções republicanas e de seus costumes familiares conservadores, no que está correto, mas exagera na mistificação de um passado recente altamente questionável e durante o qual esteve intimamente ligado ao Parlamento, símbolo maior da representação política.
Aos analistas moldados pela experiência de muitas décadas de acompanhamento do processo político, seja no Brasil ou em qualquer outro país, parece ser esta uma estratégia perigosa, pois se de um lado atrai o apoio da opinião pública, de outro retarda o debate sobre outros temas igualmente relevantes, como o presente e o futuro dos 11,9 milhões de brasileiros e brasileiras desempregados. (Fotos: José Cruz/AGBR e Luis Macedo/Câmara)
J. J. Duran é jornalista e membro da Academia Cascavelense de Letras