A sociedade civilizada
J. J. Duran
Ao escrever o livro "A Sociedade Decadente", o filósofo israelense Avishai Margalit a descreveu como aquela que não humilha seus habitantes. Considera-se uma sociedade civilizada quando as pessoas de raça, cor, cultura, gênero e credo diferentes são capazes de conviver harmoniosamente, respeitando umas às outras e compreendendo que a diversidade e o diálogo são pontes construídas para criar uma vivência harmoniosa e fraternal, onde não se discute, se dialoga, onde formalmente não se usa o discurso político com fundamento terminal do que é correto.
Segundo Margalit, só podemos dizer que somos parte de uma sociedade inteligente e ordeira quando não desqualificamos, não atacamos nem destruímos moralmente quem pensa, escreve ou atua de forma distinta do pensamento oficial, quando respeitamos a todos que nos respeitam, quando formamos politicamente círculos com a intenção de encontrar as verdadeiras soluções para problemas recorrentes, sem alardes publicitários ou discursos mentirosos.
Todo aquele governante que fomenta a fragmentação mesquinha, politicamente correta mas estupidamente incorreta, e cujas promessas futuristas lhe permitiu cativar o eleitorado na confiança de ter encontrado um novo salvador da Pátria, com o tempo se converte irremediavelmente em inexpressivo recordatório nas páginas da História.
Uma nação só é civilizada e respeitada não pelas infinitas siglas que os "sábios" de plantão criam para iludir o eleitorado, mas quando as instituições mães da República - Executivo, Legislativo e Judiciário - honram sua razão histórica de existir.
E mais: uma nação só é civilizada e respeitada quando o poder circunstancial compreende que é uma delegação provisória e não dá a ninguém a condição de todo-poderoso a ponto de suprimir o vocábulo "nós" e substituí-lo pelo "eu".
Nessa sociedade pensada pelo filósofo israelense, para manter a paz nenhum ator sociopolítico necessita arriar bandeiras, resignar princípios ou aceitar o sometimento. Basta fazer de toda diferença um caminho condutor para o encontro do diálogo fraternal.
J. J. Duran é jornalista e membro da Academia Cascavelense de Letras