Querem condenar Guedes por ele ter dito a verdade
Não de agora, boa parcela da chamada grande mídia brasileira deixou de lado as boas práticas do jornalismo para subsistir dos escândalos em série. E quando o chamado "tema da hora" esgota a paciência do público-alvo, busca logo um novo sem a menor cerimônia.
Nos três últimos dias, o que mais rendeu foi uma declaração no máximo politicamente incorreta do ministro da Economia na defesa da PEC (Proposta de Emenda Constitucional) do Pacto Federativo em tramitação no Congresso Nacional e que permite aos Estados em crise adotarem medidas emergenciais, como a suspensão de reajuste salarial.
"O governo está quebrado, gasta 90% da receita com salário e é obrigado a dar aumento. O funcionalismo teve aumento de 50% acima da inflação, além de ter estabilidade na carreira e aposentadoria generosa", queixou-se Paulo Guedes, para desprezo generalizado dessa fatia da imprensa, que preferiu dar destaque à seguinte frase dita imediatamente a seguir pelo ministro: "O hospedeiro está morrendo, o cara virou um parasita".
Isso serviu como uma espécie de senha para que entidades representativas do funcionalismo público federal cumprissem seu papel nesse filme de terror tupiniquim e ameaçassem interpelar Guedes judicialmente por "assédio institucional". A ideia partiu da Fenajufe (Federação Nacional dos Trabalhadores do Judiciário Federal), mas foi imediatamente abraçada por quase uma dezena de outros sindicatos.
Para essas entidades, a tese de que Guedes cometeu crime de calúnia, perjúrio ou coisa que o valha se sustenta em um levantamento da OCDE (Organização para a Cooperação e Desenvolvimento Econômico) indicando que em 2015 o Brasil tinha apenas 1,6% de sua população composta por servidores públicos, infinitamente menos que Noruega (30%), Dinamarca (29,1%), Suécia (28,6%), Finlândia (24,9%), França (21,4%), Canadá (18,2%), Grécia (18%), Reino Unido (16,4%) Espanha (15,7%), EUA (15,3%), Itália (13,6%), Turquia (12,4%) e Alemanha (10,6%), isso para ficar em uma lista de apenas 13 outros países.
O FURO DA BALA
Ao mesmo tempo em inundaram as redes sociais com os números citados no parágrafo anterior, o movimento sindical ignorou solenemente estudo feito pelo Banco Mundial a partir de números fornecidos pelo IBGE e que indicou que naquele mesmo ano (2015) o serviço público já absorvia 5,6% da população brasileira empregada - índice bem maior que o apontado pela OCDE, mas bem menor que os cerca de 10% de países bem mais desenvolvidos, como Austrália e EUA.
Fosse só isso, estaria claro que Paulo Guedes tinha falado bobagem e merecia ser punido. Ocorre que o ministro em momento algum falou em quantidade de servidores públicos existentes no Brasil, mas no tamanho da fatia da arrecadação necessária para bancar a folha em geral, mas sobretudo os supersalários pagos a uma considerável fatia deles, especialmente do Poder Judiciário, do Ministério Público e dos poderes Executivo e Legislativo da União e da maioria dos Estados.
Acontece que o mesmo estudo do Banco Mundial revelou que há cinco anos o Brasil já gastava com o funcionalismo público bem mais que inúmeros outros países cuja relação custo-benefício da máquina pública é bem menos desfavorável aos contribuintes da iniciativa privada. À época, segundo esse estudo, os servidores públicos já abocanhavam nada menos que 13,1% de todo PIB (Produto Interno Bruto) do País, contra 9% de EUA e Austrália, por exemplo.
"Isso significa que o motivo da massa salarial do setor público brasileiro ser tão alta é o elevado custo dos servidores públicos (altos salários), em vez do excessivo número de servidores", sentenciou um documento do Banco Mundial, ressaltando que já naquela época nosso País pagava aos servidores públicos salários em média 70% maiores que a iniciativa privada. Ou seja: existem sim parasitas no poder serviço público, e não são poucos! (Foto: Valter Campanato/AGBR)