Estupidez e decadência
J. J. Duran
Vozes proclamando a violência extrema como medida punitiva e ideologias comprovadamente retrógradas em pleno ano de 2020 são como muros divisórios de uma sociedade que, no contexto político, busca somar identidades diversas e pensamentos contrapostos para construir e conviver dentro de um novo contexto econômico e social.
Seus propagadores representam uma fatia que não concorda em desenvolver uma ação real para fazer a sociedade atual emergir da longa decadência que assola particularmente os países indo-americanos.
Há várias décadas as repúblicas do continente transitam pelo triste caminho da pobreza, da exclusão social e da derrubada de velhos padrões culturais cuja destruição levou ao ressurgimento de ideologias que, por onde foram implementadas num passado mais longínquo, deixaram cicatrizes profundas e difíceis de serem superadas.
Escureceu-se a convivência democrática e pacífica para estabelecer no ceio social a supressão do diálogo e a exortação à violência destruidora dos bens coletivos tidos pela ampla maioria como bases fundamentais para o bom convívio social. Menos mal que, segundo o penalista Maximiliano Busconi, tempos de tamanha estupidez sempre têm curta duração.
Minha geração foi levada a acreditar que a decadência de nosso jovem continente teve origem em causas exógenas. Deliberadamente, nossos educadores sempre omitiram os objetivos que sempre moveram nossas classes dirigentes e nos levaram a esse cenário degradante.
Hoje, tenho claro que a culpa por isso tudo é dos reformistas liberais com suas políticas excludentes e repressivas, e dos populistas violadores da fé do povo mais necessitado.
E essa falácia toda sempre foi massivamente explorada pela parte corrupta da mídia, colocada a serviço do melhor pagador, de rústicas e corruptoras cúpulas empresariais e de líderes boçais inquilinos transitórios de um poder delegado pelo povo que, sem perceber, de voto em voto foi assassinando a democracia.
A geração dos anos 1960, da qual fiz parte como ativo ator de fatos dolorosos na platina Buenos Aires, desenhou erroneamente este momento. Fracassamos na intenção de implantar a utopia como guia. Meus netos seguem esperando que seus pais acertem agora, vivendo e crescendo em uma ansiosa espera. Que não sejam decepcionados.
J. J. Duran é jornalista e membro da Academia Cascavelense de Letras