A Caixa Boba
J. J. Duran
Antes de tudo, há que registrar como a difamação, a calúnia e a injúria abrem portas para falsas acusações. Mas também que na recente temporada de caça às bruxas, a mídia levou ao conhecimento do povo biografias reais de pseudos líderes políticos, empresariais e até religiosos e mostrou quanta falácia havia sido escrita anteriormente para exaltar esses novos patriarcas da família sociopolítica.
Quase sempre o que se escreveu nesse período mais recente foram verdades que desnudaram a esquelética figura de falsos profetas, figuras utópicas do pensamento, da política e das religiões que, lamentavelmente, conseguiram pela via mais democrática (o voto) o direito de ocupar cargos estratégicos que lhes deram acesso à chave do cofre da República para usufruir ilicitamente do sagrado dinheiro público.
Mas nem sempre a corrupção perseguida pela Lava Jato foi motivo do adequado castigo, pois altos representantes do poder de toga usaram obscuras artimanhas para inocentar pessoas com participação comprovadamente importante nesse processo de putrefação da República verde-amarela.
Esse fato abriu um imenso campo para a utilização da mentira como se fosse verdade e a transformação das chamadas fake news em eficientes ferramentas para proteger culpados e macular inocentes, trabalhando o pensamento do consumidor da informação de acordo com os interesses dos personagens envolvidos.
Isso me remete ao livro Emboscada no Forte Bragg, em que Tom Wolfe (1930-2018), considerado um dos pais do Novo Jornalismo, batizou a televisão como Caixa Boba e mostrou de forma muito clara que bobas são as pessoas que se deixam enganar pelo conteúdo dessa caixa.
Produzir dentro desse cenário a informação clássica, com fontes declaradas e devidamente checadas, é uma ação que enfrenta sérios obstáculos. E a Caixa Boba hoje em dia é encarnada principalmente pelos intrincados caminhos das redes sociais, que para outro importante escritor, Umbarto Eco (1932-2016), promoveram "o idiota da aldeia em portador da verdade". Tempos difíceis estes vividos pela imprensa verdadeiramente ética.
J. J. Duran é jornalista e membro da Academia Cascavelense de Letras