A decisão do presidente Jair Bolsonaro de demitir o ministro interino da Casa Civil, José Vicente Santini, por ter usado um avião da FAB (Força Aérea Brasileira) para viajar à Índia sem uma justificativa plausível, voltou a chamar a atenção dos brasileiros em geral para uma verdadeira farra com o dinheiro público na qual se esbaldam muitas autoridades de Brasília.

Apenas nos 26 primeiros dias de janeiro, mês de recesso do Congresso Nacional, aviões da FAB requisitados por políticos já decolaram 42 vezes para transportar 382 passageiros. E dados provavelmente ainda mais estarrecedores só não vazam porque os custos operacionais dessa verdadeira cortesia com o chapéu alheio são protegidos por sigilo.

O maior exemplo recente de uso e abuso dessa prerrogativa não está no governo, mas nem tão longe dele. Somente em 2019, o presidente da Câmara, Rodrigo Maia (foto), fez 238 viagens em jatos oficiais, número superior ao de dias úteis trabalhados na Câmara no mesmo período. E desde o recesso iniciado em 22 de dezembro, ou seja, há pouco mais de um mês, ele já fez outras 11 viagens em jatinhos da FAB, Até para passar férias com a família em Miami, no fim do ano passado, Maia requisitou um jatinho oficial para levá-lo até São Paulo, onde embarcou em voo comercial rumo aos EUA.

Na última sexta-feira o presidente do Congresso Nacional, senador Davi Alcolumbre, viajou de Macapá para Salvador acompanhado de outros dez passageiros, um pequeno exército convocado com a missão de exercer trabalhos de assessoria e segurança ao nobre político.

Sobre o Judiciário não se tem um levantamento exato sobre o uso de aviões oficiais, mas certamente ele ocorre sem limites a se considerar que ao longo de 2019 todo o corpo de ministros e servidores do STF gastou nada menos que R$ 2,7 milhões em diárias, valor um terço maior que o de 2018. Só o presidente Dias Toffoli recebeu R$ 61,7 mil de diárias por viagens ao Brasil e ao exterior.

Por falar em Toffoli, no finzinho do ano passado ele foi denunciado pela imprensa por usar um avião da FAB para vir ao Paraná inaugurar o novo fórum de Ribeirão Claro, que leva o nome de seu pai, Luiz Toffoli, e aproveitou para emendar a viagem a um resort de luxo para alguns dias de descanso.

REGRAS

São autorizados a usar os aviões da FAB o presidente da República e o seu vice, ministros, os presidentes da Câmara, do Senado e do Supremo Tribunal Federal, comandantes e chefes das Forças Armadas.

Contudo, a legislação não prevê restrições de acompanhantes. Por essa razão, só no último dia 24 a FAB transportou 52 passageiros. Apesar de absurdo, esse número nem de longe é comparável ao de 18 de janeiro de 2019, quando nada menos que 224 pessoas foram transportadas em seis voos.