A paranoia oficial
J. J. Duran
No interior do governo reformista de Michel Temer e seus ministros auxiliares Carlos Marun e Eliseu Padilha há uma crise sem precedentes. Pelas das declarações feitas frente aos holofotes, os membros do triunvirato sabem do efeito que a paralisação dos caminhoneiros produziu na estrutura governamental.
Ao já grande desgaste de credibilidade que tem o presidente, agregaram-se os erros garrafais e imperdoáveis cometidos durante as negociações feitas com pseudos representantes da categoria dos transportadores em greve. Ficou clara a deficiência do trio para enfrentar uma situação grave como essa.
Entre a euforia demonstrada pelo ministro Marun e o estrondoso fracasso do acordo anunciado entre as partes, ficou evidente que faltou uma equipe altamente preparada para enfrentar, negociar e compreender a gravidade da situação.
Disso tudo deverá o governo extrair importantes lições. Uma é que o senhor Temer e outros náufragos sobreviventes da Lava Jato, ainda blindados pela imunidade dos cargos, já não podem mais seguir vivendo e declarando a irrealidade segundo a qual "em dois anos foi reorganizado o Estado".
Essa irrealidade se soma a outra irrealidade: a dos anúncios da intenção de manterem-se no poder pós-2018 pela via eleitoral, pois Temer e todo seu elenco político governante foram coparticipes do desastre moral, político, material e institucional hoje enfrentado por todos os brasileiros.
Não cessaram as causas, não desapareceram os executores e não se reformulou a filosofia que entronizou a mentira como vocábulo da corrupção.
Temer deve compreender que em dois anos não desapareceu a pobreza; pelo contrário, aumentou. Que a violência quase incontrolável que enluta as famílias brasileiras é o capítulo central de uma ação de governo iniciada 30 anos atrás, quando a corrupção resultante do conluio das figuras mais degradantes da política com o poder econômico passou a reinar entre as sombras e a paralisar todo intento de purificação do cenário institucional.
O presidente também deve compreender que todo acordo firmado em crises laborais deve contar com participação ampla dos trabalhadores para ser válido, e não dos engravatados dirigentes que vivem dentro dos gabinetes sindicais. O verdadeiro acordo nesse caso pontual teria que ter sido feito com os trabalhadores que estão na boleia dos caminhões.
Este governo está vivendo a paranoia do fim de mandato e da perda das blindagens diante da Operação Lava Jato à sua espera. Paranoia é patologia de gente com estrutura psicológica precária.
Que não tente este governo procurar culpados. Simplesmente admita seus erros e a falta de credibilidade para conduzir os destinos da Nação.
J. J. Duran é jornalista e membro da Academia Cascavelense de Letras