Política x religião
J. J. Duran
Um fantasma que percorre a indo América neste princípio do século XXI é o fundamentalismo cristão, marcado pelo uso cada dia com maior frequência de citações bíblicas entremeadas com a mensagem essencialmente política.
Múltiplos são os sinais dessa cruzada evangelizadora do fator político, dentre eles o decreto de Nicolas Maduro colocando no calendário festivo venezuelano o Dia do Pastor Evangélico, acompanhado do anúncio de que proximamente será instituído o Dia Nacional da Bíblica.
Vale lembrar que Hugo Chavez, antecessor desse lunático confesso que declarou ter viso seu mentor encarnado em um passarinho, era católico praticante, o que reforça a constatação de que a indo América está sendo varrida pelo vento fundamentalista, que vai substituindo governos laicos seculares por teocracias já fracassadas em vários continentes.
Nos EUA avançou o conservadorismo compulsivo e na Espanha, do separatismo catalão, um partido nacionalista se converteu nas últimas eleições na terceira maior força política da península.
No Brasil, foi o fundamentalismo evangélico que levou à Presidência da República o senhor Jair Bolsonaro, que, com sua costumeira autenticidade, não hesita em citar trechos bíblicos para explicar o novo momento político vivido pelo País.
Na Bolívia, Luis Camacho, um ignoto para os desavisados mas de forte penetração nas classes dirigentes do país, se apoderou do caos surgido pela derrocada do ex-presidente Evo Morales para ser o poder oculto por trás da autoproclamada presidente Jeanine Añez.
Já na Argentina, muitos políticos tradicionais se maquiaram durante a recente campanha eleitoral de"pastores evangélicos"para conseguir votos e apoio financeiro.
Os analistas de política se debatem para identificar as verdadeiras razões do avanço desse fundamentalismo evangélico em terras de tradição liberal ou onde o populismo personalista cultua figuras como Evita Peron.
Em minha opinião, catalogar esse movimento como de viés autoritário e conservador é colocar a indo América na condição de continente subdesenvolvido.
J. J. Duran é jornalista e membro da Academia Cascavelense de Letras