2020 poderá ser excepcional para o agronegócio brasileiro
Dilceu Sperafico
Está certo que previsões, especialmente de médio e longo prazos, mesmo partindo de especialistas, sempre dependem de fatores favoráveis combinados para sua confirmação, mas expectativas otimistas sempre representam motivação extra para os segmentos econômicos ou produtivos e sociais, desde investidores e empregadores, até trabalhadores e consumidores.
No início de dezembro último, por exemplo, durante o painel econômico Agrocenário 2020, realizado em Brasília, por iniciativa da Aprosoja Brasil, o economista e sócio-diretor da MBAgro Consultoria, Alexandre Mendonça de Barros, afirmou que o agronegócio nacional terá período excepcional neste ano, com a elevação dos preços da soja, milho e carnes no mercado externo.
A expectativa positiva está vinculada ao novo ambiente de produção e comercialização de proteína animal no mundo, após o registro de peste suína africana que reduziu o rebanho e abate de suínos da China, a quase metade do registrado em 2019.
Além disso, é muito difícil ou raro um período mais prolongado, como um ano, no qual grãos e carnes estejam com preços elevados ao mesmo tempo, no mercado globalizado de alimentos.
O normal é que carnes tenham preços em alta, enquanto as cotações de grãos são reduzidas. Esses fatores combinados ao câmbio valorizado, representam oportunidade singular para o crescimento do agronegócio brasileiro ao longo de 2020.
De acordo com Mendonça de Barros, em 2020 deve haver déficit de 23 milhões de toneladas de carne suína na China, o que representará quase 20% da produção mundial, gerando demanda ainda maior do produto e beneficiando países produtores e exportadores de suínos.
Ocorre que, considerando a dimensão do consumo chinês, a peste suína foi o maior advento do mercado de carnes em 2019 e talvez da própria história, o que indica que será difícil o país resgatar sua capacidade produtiva e estoque do alimento, em menos de três ou quatro anos.
Além disso, os negócios agrícolas de todo o planeta sofreram em 2019 o impacto do conflito comercial entre China e Estados Unidos, deflagrado em 2018 e que poderá se estender por 2020, apesar de avanços nas negociações nas últimas semanas. A crise atingiu muito a agropecuária norte-americana, elevando o endividamento dos produtores do país a nível recorde.
Para isso, contribuiu muito a redução drástica das importações de soja norte-americana pela China, ficando em apenas nove milhões de toneladas, contra 70 milhões de toneladas adquiridas do Brasil, com pagamento de 25 reais de prêmio por tonelada embarcada no Porto de Paranaguá.
Em 2019, possivelmente para compensar perdas no setor de carnes, os chineses estiveram acenando com acordos aos norte-americanos, o que se refletiu na redução em 80% dos prêmios pagos pela soja brasileira.
O único fator que pode atrapalhar o cenário positivo para o agronegócio brasileiro ao longo de 2020, será eventual atraso na colheita da safra de soja, especialmente em Goiás e Mato Grosso do Sul, devido à estiagem registrada nos dois Estados.
Mesmo com regularização das chuvas em dezembro, a demora na colheita da leguminosa pode comprometer a segunda safra de milho, cuja produção alcançou exportações recordes em 2019 e deve apresentar demanda mundial elevada em 2020, a exemplo da soja e carnes.
Dilceu Sperafico é ex-deputado federal pelo Paraná e ex-chefe da Casa Civil do Governo do Paraná - dilceu.joao@uol.com.br