Quando a política faz mal à saúde
Fosse um País realmente sério, muito provavelmente o Brasil teria entre suas mais de 180 mil leis atualmente vigentes ao menos uma alertando para as situações em que os políticos fazem mal à saúde, nos mesmos moldes da que obriga a inclusão daquele recado chato, mas esclarecedor, ao final de toda propaganda de cigarro e bebida alcoólica. Isso certamente não seria suficiente para resolver o problema - que, justiça seja feita, extrapola o círculo político e atinge a sociedade como um todo -, mas ao menos faria com que o eleitor refletisse mais detidamente sobre o assunto, nem que fosse apenas naquele breve momento em que é obrigado a aguardar na fila de votação, em uma imitação quase perfeita do gado sendo conduzido ao matadouro. Por mais conspiratória que possa parecer, essa reflexão é mais que oportuna neste último dia de 2019, pois estamos deixando para trás um ano marcado por uma espécie de festival de soltura de bandidos do colarinho branco que deixou como legado uma desmoralização ainda maior dos três Poderes e, para desgraça ainda maior, o fortalecimento daquela tese diabólica segundo a qual o mundo é dos expertos, não dos honestos. O Brasil fecha hoje um ano inteiro sem uma denúncia sequer de corrupção contra o atual governo federal, algo praticamente inédito desde a redemocratização da República e digno de comemoração. Mas esse feito histórico, que não é nada além de mera obrigação para quem governa, se resume a uma mísera agulha no palheiro perdida entre tantas outras que simbolizaram um autêntico festival de açoitamento moral das pessoas de boa fé.
Gastança I
Sobre o Congresso, o que mais chamou atenção neste apagar das luzes do ano foi a tentativa criminosa que elevar para R$ 3,8 bilhões o fundo com dinheiro público destinado a financiar a campanha municipal do ano que vem, felizmente abordada de última hora. Mas ainda assim serão gastos R$ 2 bilhões, o equivalente a praticamente 20% do custo anual da Câmara (R$ 6 bilhões) e do Senado (R$ 5,3 bilhões).
Gastança II
Os gastos secretos da Presidência da República, por meio dos cartões corporativos do governo federal, chegaram a R$ 14, 9 milhões no primeiro ano do governo Jair Bolsonaro. É o maior valor desde os R$ 20,1 milhões em despesas sob sigilo feitas em 2014 pela então presidente Dilma Rousseff.
Gastança III
Imbatível em termos de mordomias, o Judiciário uma vez mais cuspiu na cara da sociedade trabalhadora. O Tribunal de Justiça de Pernambuco, por exemplo, pagou a inúmeros juízes e desembargadores em novembro rendimentos líquidos de R$ 853 mil por conta de férias acumuladas. Anteriormente, em junho, quando ainda à frente do TSE, o hoje presidente do STF Dias Toffoli havia torrado R$ 35 mil só em diárias, ou seja, mais que o salário do período, que foi de R$ 33,7 mil. E na véspera do Natal ele ainda usou um avião da FAB para dar uma esticada até um resort de luxo no interior paulista após inaugurar o novo Fórum da cidade paranaense de Ribeirão Claro, que leva o nome de seu pai.
Gastança IV
E pra fechar essa retrospectiva repleta de lamentos, vale lembrar que o Tribunal de Contas do Paraná está espantado com o fato de ter identificado o pagamento de nada menos que R$ 13,2 milhões em diárias e passagens a vereadores e servidores das câmaras municipais do Estado ao longo de 2019. Ortigueira (R$ 316 mil), Jacarezinho (231 mil), Palmas (R$ 272 mil) e Quatro Barras (R$ 228 mil) foram as campeãs de gastos. Juntas, essas cidades têm cerca de 40% da população de Cascavel, cuja Câmara gastou apenas R$ 42 mil com esse mesmo fim.
* Pílulas
* O prefeito Leonaldo Paranhos começará 2020 tirando merecidas férias com a família, após um ano inteiro de intenso trabalho. * Por conta disso, o presidente da Câmara, Alécio Espínola, é quem responderá pelo comando da Prefeitura desta quinta-feira (2) até o dia 10. * A Azul Linhas Aéreas já oficiou Prefeitura e Coopavel informando que atenderá Cascavel com voos extras durante a realização do Show Rural, de 3 a 7 de fevereiro. * Pedido nesse sentido foi apresentado pelo presidente Dilvo Grolli ao prefeito Leonaldo Paranhos, que se encarregou de fazer o meio-campo com a empresa. * A Câmara de Lindoeste suspenderá o recesso e voltará a se reunir na próxima segunda-feira (6) para votar o pedido de cassação do prefeito José Romualdo Pedro. * Ele é acusado de ter causado um rombo que pode chegar a R$ 1 milhão no Fundo Municipal de Saúde.