Abuso sexual no meio esportivo entra na pauta da Câmara dos Deputados
Em audiência pública na Câmara dos Deputados, profissionais do desporto nacional discutiram a importância de mais rigor em protocolos éticos para prevenir assédios no esporte. O tema foi colocado em pauta depois de recentes denúncias de assédio sexual no esporte.
Organizador do debate, o deputado Evandro Roman (PSD-PR), que é doutor em educação física, afirmou que "a ideia é criar um protocolo para procedimentos esportivos que inibam a prática de abuso, salvaguardando a integridade das crianças e jovens atletas, dando segurança aos pais e, mantendo o esporte, como grande colaborador no processo de ensino e aprendizagem no desenvolvimento de valores para formação de um adulto".
A principal denúncia envolve Fernando de Carvalho Lopes - ex-técnico do clube Mesc, de São Bernardo do Campo (SP), e da seleção brasileira - que teria cometido abusos contra mais de 40 atletas. O inquérito está em segredo de Justiça. O atual coordenador técnico da seleção, Marcos Goto, também foi acusado de omissão e bullying.
Ambos foram convidados pelo deputado Roman para participar do debate, mas apenas Goto teve um representante na audiência. Segundo Roman, o papel da Câmara dos Deputados não é de acusação. "Estamos aqui para entender, ouvir e criar normas. Nosso papel não é fazer julgamentos", concluiu.
O advogado de Goto, Marcel Ferraz Camilo, fez questão de diferenciar as acusações ressaltando o extenso currículo do atual técnico da seleção brasileira, tendo sido um dos idealizadores da cartilha contra assédios.
Durante o debate, o assessor jurídico da CGB (Confederação Brasileira de Ginástica), Paulo Schmitt, apresentou ações preventivas que vem sendo desenvolvidas pela entidade. "Em parceria com o Ministério Público do Trabalho desenvolvemos uma cartilha contra o assédio e um canal de denúncias e de orientações para os atletas. Agora estamos conclamando nossas federações filiadas, a comissão nacional de atletas e os clubes para trazer um ambiente mais seguro para os nossos esportistas", explicou.
O professor de educação física da Unicamp, Miguel de Arruda, ressaltou procedimentos de avaliação de maturação sexual devem ser feitos com o único propósito de ajustar o treinamento de crianças e adolescentes atletas. "Que seja proibido que o treinador ou um professor faça uma avaliação dessas sozinho. Os comitês de ética já têm isso, mas é preciso uma força de lei. Senão, escândalos podem estar sempre ocorrendo", comentou.
MATURAÇÃO SEXUAL
O diretor da Faculdade de Educação Física da Unicamp, Miguel de Arruda, lembrou que a avaliação da maturação sexual em crianças e jovens é fundamental para a definição da carga de exercícios dos atletas e deve ser usada apenas com esse propósito. "A Escala de Tanner, por exemplo, é um conteúdo da medicina que tem, para nós, a aplicabilidade prática de ajuste de treinamento, unicamente. Havendo desdobramentos comportamentais, não cabe à educação física julgar. Aí é caso de polícia", disse.
Roman afirmou que esse é um dos procedimentos a serem regulados por protocolos rígidos, e que assim, facilita o impedimento para casos de abusos. "Que seja terminantemente proibido que o treinador ou um professor faça uma avaliação sozinho. É preciso estabelecer uma equipe multidisciplinar para atuar nesse sentido. Os comitês de ética já têm isso, mas é preciso uma força de lei", comentou. (Foto: Assessoria)