Bolsonaro x Fernandez
J. J. Duran
"Mantenha seus amigos por perto e seus inimigos mais perto ainda", recomenda um antigo ditado.
A primeira regra das relações internacionais é não utilizar questões externas para fazer política interna, mas poucos homens públicos da pós-verdade parecem respeitá-la.
Nas relações públicas, como bem dizia John Kennedy, é necessário"prever que o bom senso prevalecerá"nos momentos mais difíceis da tomada de uma decisão.
A globalização leva muitos a confundirem política externa com assuntos da política interna de seu país e a falta de comunicação com o restante dos mortais elevados ao sitial governante produz, por vezes, sérios percalços nas relações internacionais.
Um erro que parece de menor importância para aqueles que exercem transitoriamente o poder, mas não é, ocorre quando um país com maior poder econômico ou militar tenta influenciar as decisões de outro país menos potencializado globalmente.
Neste momento conturbado que atravessam muitos países, o México é um exemplo claro disso. A visão de seus governantes, sempre voltada para o vizinho gigante (EUA), causou um nítido afastamento do restante do continente.
Nesse contexto é importante observar que o novo presidente argentino, o catedrático Alberto Fernandez, está condenado na sua política externa a percorrer um caminho que não tem volta.
Mas ainda assim, ao Brasil é importante recompor as relações institucionais com a Argentina, deixando de lado gostos e desgostos pessoais de seus governantes, pois velhos laços fraternais e fortes interesses comerciais unem os dois países e devem ser mantidos acima de rusgas circunstanciais.
O equilíbrio verbal deve ser uma espécie de lei nas relações diplomáticas entre os dois países, não devendo se sobrepor a isso o fato de Jair Bolsonaro ser líder absoluto do direitismo evangélico com gravitação por toda a América Latina e Alberto Fernandez um emergente representante do populismo laico.
A crise vivida por Equador, Peru, Bolívia e Chile resulta justamente da falta desse entendimento por parte de seus governantes e isso deve servir de exemplo para que Brasil e Argentina não repitam o mesmo erro.
J. J. Duran é jornalista e membro da Academia Cascavelense de Letras