O que veio primeiro: o caminhão ou o pedágio?
Alceu A. Sperança
Esta é mais fácil que o paradoxo ovo-galinha, cuja resposta é o ovo, uma vez que a galinha resultou da ovulação da evolução: o pedágio veio bem antes dos caminhoneiros e dos reajustes abusivos dos combustíveis.
Há exatamente 200 anos os primeiros capitalistas que disputavam o controle dos caminhos pedagiados entre Curitiba e o litoral do Paraná - o Oeste só começou a se formar em 1889, com a fracassada Colônia Militar - estavam metidos num vale-tudo pela concessão.
Na época, Brasil ainda engalfinhado em lutas entre coxinhas lusos e mortadelas nordestinos (as Guerras da Independência), havia também uma tensa luta pelo controle dos caminhos. O príncipe João e filho Pedro I nem pensavam em algo parecido com licitação: quem fosse mais digno das graças do trono luso ganhava os direitos, todos eles.
Empresários de Antonina e Morretes disputavam o direito de construir um caminho próprio entre planalto e o litoral. O vencedor levaria o grosso dos recursos arrecadados pelo direito de passagem.
Quem iria decidir, enfim, era a principal autoridade do governo local, coronel de Engenheiros Miguel Reinardo Bilstein, uma espécie de interventor militar do Paraná da época, ainda pertencente a São Paulo.
Mas o militar morreu subitamente em 2 de fevereiro de 1824. Considerado pelo historiador Vieira dos Santos "muito exato no cumprimento de seus deveres", assumiu em 1822 e fazia um bom governo.
Morreu sem conseguir comunicar a decisão sobre a disputa. Segundo os médicos que o examinaram, o governador foi envenenado. Por aí se vê a que ponto chegavam as disputas políticas e econômicas na época.
Hoje, o envenenamento é geral e se dá pela toxidade das notícias falsas nas redes "antissociais".
Alceu A. Sperança é escritor e jornalista - alceusperanca@ig.com.br