Um País dividido
J. J. Duran
O Brasil emergido do triunfo eleitoral que levou Jair Bolsonaro ao mais alto poder do sistema democrático navega por águas turvas e convulsionadas pela oratória precária e pelo uso excessivo de um sistema de comunicação baseado nas redes sociais, cujo escatologismo mostra clara tendência de confronto com aqueles que não comungam do mesmo ideário.
O Brasil sempre abominou a intransigência dos fanáticos e intolerantes sectários, mas os que são vítimas das paixões ideológicas insensíveis acabam se blindando aos apelos do diálogo, única ferramenta capaz de levar ao encontro da razão.
Neste momento, o cenário público está tomado pela comunicação dos que, dominados por uma filosofia arrogante, se deixam motivar pelos baixos instintos de um primitivismo telúrico. E essa louca corrida para fazer prevalecer formas do passionalismo político-religioso, cultural e ideológico revela posições irracionais expoentes da mediocridade.
Há que somar antagonismos circunstanciais e amalgamá-los em forças criadoras para reduzir a pobreza da incompatibilidade e fazer do poder uma força dinâmica, que silencie o uivar dos famintos de grandeza espiritual.
Num País onde o laicado está expressamente consagrado nas páginas da Carta Magna, reinstaurar a contradição do hegemônico poder político-religioso é refazer o caminho do retrocesso no convívio da sociedade.
Neste momento procura-se instaurar, via redes sociais, a polêmica sobre o valor do STF, quando esse augusto sodalício deve ser mantido acima do entrechoque das paixões de grupos desclassificados, pois existe historicamente como supremo guardião da democracia que ampara a população contra os dilúvios da prepotência, da intolerância e das premonições dos medíocres, que merecem o silêncio de todos.
A ação do radicalismo ideológico é desgastante e infecunda, pois esteriliza os esforços republicanos. O facciosismo vociferante alimenta o sectarismo e o desânimo coletivo. Não se impõe ideias e credos pela ameaça, nem pela violência do engodo demagógico.
O silêncio nas mesmas redes sociais sobre os 13,5 milhões de irmãos brasileiros que vivem friamente catalogados como miseráveis é uma prova de que os medíocres são incapazes de reverter o caminho do Golgota e devolver a dignidade a essa expressiva parcela da população.
Neste momento em que o centro da vida democrática da República está se inclinando para as áreas convulsionadas da agitação ideológica e fazendo crescer a radicalização do processo político, há que se fazer todo o possível para acalmar os espíritos e as vozes dos chacais que uivam famintos de ódio.
J. J. Duran é jornalista e membro da Academia Cascavelense de Letras