Ferroeste: região é contra antecipação de concessão
Cerca de 120 diretores e representantes de 40 cooperativas do Estado participaram ontem (21), na Associação de Funcionários da Coopavel, em Cascavel, do Fórum de Logística do Cooperativismo Paranaense. O objetivo foi refletir sobre os desafios e as urgências da estruturação logística, condição indispensável para que os produtos paranaenses sigam competitivos no concorrido mercado internacional. O presidente da Coopavel e diretor da Ocepar, Dilvo Grolli, apresentou dados contundentes e que mostram que, caso os líderes paranaenses não estejam atentos e unidos, poderão ocorrer prejuízos bilionários à cadeia produtiva que hoje faz do Paraná uma referência de prosperidade nacional.
Dilvo e outras autoridades do Oeste do Estado foram os primeiros a se erguer contra a renovação da concessão do pedágio considerado o mais caro do planeta. Estudos apurados mostraram que existiam inconsistências em informações, resultando em apurações na Assembleia Legislativa e no Tribunal de Contas, fazendo com que as irregularidades comprovadas fossem parar na Lava-Jato. Um engenhoso esquema de corrupção foi desfraldado e muitos dos que se beneficiaram com as cobranças ilegais e manobras que beneficiaram as concessionárias acabaram presos. "O objeto é diferente, as pessoas são diferentes, mas a história é a mesma", alertou Dilvo, chamando atenção para articulações em curso que podem impactar seriamente o modal ferroviário paranaense.
Pouco antes da apresentação de Dilvo, o engenheiro da Rumo, Cristiano Donatti, empresa que detém concessão de trechos ferroviários no Estado, falou sobre o possível aumento da capacidade de transporte das cargas do Oeste em direção ao Porto de Paranaguá. No entanto, associou os investimentos à renovação do contrato de concessão (expira em 2026). O presidente da Coopavel abriu sua apresentou questionando a Rumo da razão de não ter feito as obras antes, e de deixar os alinhamentos como condição para a renovação do contrato. "Desde já, sou contra essa renovação, porque isso não será saudável para o Estado e muito menos para o Oeste, região responsável pela produção de grande parte das commodities paranaenses".
Mesmo assim, os números de expansão apresentados pela Rumo são muito distantes do que o Oeste precisa e projeta. A diferença entre o que oferecem (hoje são apenas 380 mil toneladas que seguem ao porto de trem) e o que a região pode oferecer é de dez vezes as quantidades informadas, de três milhões para mais de 20 milhões de toneladas por ano - considerando produções de outros estados e países vizinhos. "O Paraná é um grande sucesso da porteira para dentro, mas da porteira para fora tem muitos problemas que limitam e encarecem a produção. Não cabe às cooperativas fazer logística, nosso foco é a produção", ressaltou Dilvo.
Apenas uma fração da soja produzida no Oeste segue ao Porto de Paranaguá por ferrovia. Em 2018, a produção foi de 5,7 milhões de toneladas e somente 183 mil toneladas foram exportadas por meio de ferrovia, ou 3,2% do total. Em 2019, o índice entre janeiro e setembro foi de 4,69%, com transporte por trem de 211,3 mil toneladas da produção total de 4,5 milhões de toneladas do grão. As exportações de Paranaguá com produtos transportados por ferrovia chegaram a 9,4 milhões em 2018, disso somente 380 mil toneladas do Oeste (participação de 0,04%) e de janeiro a setembro de 2019 foram 5,8 milhões com participação do Oeste de 410 mil, ou 0,07% do total.
PREJUÍZOS
Devido à ineficiência do modal ferroviário, as empresas que investiram em estruturas na área da Ferroeste, em Cascavel, operam com prejuízo ou com resultado muito abaixo ao projetado. "Justamente porque a região não recebe o suporte que merece por parte da concessionária Rumo", apontou Dilvo Grolli.
Na operação de fertilizantes da Coopavel, já que 85% do transporte é feito por caminhões e apenas 15% por trem, o prejuízo com frete, de 2010 para cá, chega a R$ 40 milhões - e outros R$ 20 milhões no calcário. O mesmo problema impacta um terminal construído pela Cotriguaçu, que integra algumas das maiores cooperativas da região. A unidade consumiu R$ 200 milhões, porém as parceiras decidiram paralisar investimentos que chegariam a R$ 500 milhões.
O volume de contêineres que passou pelo terminal em 2018 e que seguiu por ferrovia foi de 7.257. A necessidade da região Oeste, todavia, é de 20 mil a 24 mil contêineres, a grande maioria deles embarcada em caminhões em razão dos entraves operacionais. Por ferrovia, a demora na operação é de sete dias, enquanto que por rodovia a distância entre Cascavel e Paranaguá é vencida em 12 horas. Isso gera aumento de custos de R$ 1 mil por contêiner.
As 12 empresas instaladas no terminal da Ferroeste em Cascavel já investiram R$ 1 bilhão em suas estruturas. As áreas são cedidas em regime de concessão por 25 anos. Depois de vencido esse prazo, os investimentos revertem para a Ferroeste. "Esse é mais um motivo para sermos contra a renovação da concessão da Rumo, já que ela demonstrou interesse em assumir o controle da Ferroeste e terá os direitos de todos esses ativos das empresas do Oeste gratuitamente", disse Dilvo.
"Se isso ocorrer, esse valor, que nós investimos, terá de ser pago à concessionária que nada fez em favor dos produtores rurais, das agroindústrias e das cooperativas do Oeste", acrescentou. Mais R$ 2 bilhões, que seriam incorporados pela Rumo em eventual controle da Ferroeste, referem-se aos 250 quilômetros de trilhos entre Cascavel e Guarapuava, e ainda o direito de exploração do trecho de Guarapuava a Dourados (MS) até o ano de 2099. "Temos que estar unidos, munidos de números e lutar pelo que acreditamos que seja o melhor para as nossas comunidades", concluiu o presidente da Coopavel.
O Fórum de Logística do Cooperativismo Paranaense abriu espaço também para apresentação do novo modelo de pedágio que se espera ao Estado a partir de novembro de 2021, sobre tabela do frete e sobre aplicativo de gestão de frota. (Foto: Divulgação)