O discurso de Bolsonaro
J. J. Duran
A superficialidade conceitual do discurso de certos líderes políticos não e fruto necessariamente da dificuldade de argumentação, mas da forma de ver as coisas. O ex-capitão Jair Messias Bolsonaro não tem liturgia oratória. Seu falar é agressivo, monossilábico e desafiador, mas mesmo assim muitos analistas o definem como o pensamento de um autêntico líder, e isso é desconcertante para aqueles acostumados ao floreio mentiroso dos ilustrados travestidos de homens públicos.
Bolsonaro tem tiradas opinativas que chegaram a dar nova interpretação à história do nazismo, definindo-o como um movimento da esquerda europeia fruto de um partido de pensamento socialista. Mas suas aparentes confusões discursivas não são deslizes e sim parte de um processo sistêmico que coloca em prática para atingir o foco interpretativo desejado de seus ouvintes.
Bolsonaro é um fundamentalista nacionalista-ecumênico, que se distancia propositalmente da complexidade dos pensamentos analíticos para aferrar-se a frases e construções gramaticais simplórias, quotidianas no falar do homem da rua e que expressam seu pensamento de forma categórica.
É um representante da nova leva de líderes direitistas agressivos nas manifestações a partir de um vocabulário esquelético e eivado de vazios conceituais, que converte problemas em soluções fáceis via respostas desconexas e intuitivas, mas que passam certa segurança a quem ouve.
Apegado ao discurso de que o passado recente é o mal incrustado na carne de uma sociedade defraudada moral e materialmente pela corrupção populista, Bolsonaro se apresenta como o fruto prometido nos tempos da campanha eleitoral e usa as redes sociais para ecoar seu grito libertário.
Esgotados o tempo, o dinheiro e a esperança das massas majoritárias dos padrões eleitorais, formadas pelos desprotegidos sociais e míseros pedintes pelo fim das desigualdades, o ex-capitão chegou ao poder com sua retórica simples, autêntica e reformista e com ações contraditórias ao manual economês do seu ministro Paulo Guedes como alguém diferente e autêntico.
Beltold Brecht já disse que "quando a hipocrisia começa a ser de má qualidade, chega a hora de dizer a verdade". Tomara Bolsonaro seja fiel depositário da esperança de povo pelo reencontro da verdade na boca dos governantes.
J. J. Duran é jornalista e membro da Academia Cascavelense de Letras