A indo-América liberal
J. J. Duran
O Chile, pérola da economia liberal do pacífico indiano, a Bolívia do capitalismo heterodoxo e pragmático, o Equador, o Peru e a Argentina, neste momento retomando o caminho da economia progressista populista pelas mãos do professor Alberto Fernández, formam um claro indicativo de que algo não está andando bem na inter-relação poder/sociedade nas economias de ajuste reformista.
Em parte desses países, os protestos horizontais que ganharam as ruas foram de gravidade e dimensão difíceis de mensurar. E o motivo da maciça adesão popular às manifestações foi a situação insustentável em que vivem as classes baixa e média.
O aumento visível das desigualdades existentes entre a minoria social poderosas e a parcela esmagadora vitimizada pelos efeitos reformistas produzidos pelas políticas liberais tem levado às ruas, em clara demonstração de inconformismo, as maiorias sociais que sofrem os efeitos desses ajustes.
A História nos mostra que os protestos horizontais, esses que nascem sem um líder, tiveram seu mais triste momento de difusão na década de 1960 em resposta a governos autoritários marcados por desemprego alarmante, perdas salariais e aumento do custo de vida, e transformaram as ruas em cenários por vezes extremamente violentos.
Pois a trágica roleta russa daquele período político indo-americano, em que se opunham populistas e conservadores, produziram uma divisão social idêntica à do momento atual, quando um cenário de desequilíbrio econômico associado a reprováveis índices de corrupção, incapacidade e soberba está impulsionando novos e sucessivos enfrentamentos.
As revoltas populares de hoje em dia, portanto, têm origem nas mesmas causas das de meio século atrás, que devem servir de alerta para a necessidade de combater a fanfarronice, a estupidez dogmática e as ideologias caducas sem prescindir dos limites impostos pela cautela necessária para administrar um tempo tão difícil.
J. J. Duran é jornalista e membro da Academia Cascavelense de Letras