Jornalismo espertinho
Renato Sant'Ana
Vinculado à Revista Veja, há um blog temático que veicula o ruidoso blá-blá-blá do ambientalismo esquerdista, muito em voga neste 2019.
Pois uma postagem ali, em 12/10/19, maliciosamente, trazia este título: "Governo federal é responsável por óleo vazado no Nordeste".
Só que, no corpo do texto, assinado por Jennifer Ann Thomas, a ideia apresentada era outra, contendo, inclusive, a negação do título: "Mesmo que o óleo vazado no nordeste não seja do Brasil, a União tem o dever de proteger o meio ambiente e a saúde da população".
Afinal, o governo é responsável pelo vazamento (como acusa o título) ou, diante de um desastre causado por um agente ainda não identificado, tem a responsabilidade (como se lê no corpo do texto) de adotar medidas de proteção e de recuperação do ambiente?
Ora, trata-se de matéria pretensamente informativa. E o título é o primeiro que o leitor vê. E ninguém ignora que, na pluralidade da fauna humana, há leitores que se limitam a ler só os títulos, sobretudo quando, mediocremente, buscam apenas confirmar e reforçar suas próprias crenças e satisfazer o desejo narcísico de ter uma opinião.
A incongruência do texto, pois, é útil aos fins do blog. Ou dirão que a articulista é uma estagiária imatura que não domina a técnica do jornalismo? O que está na cara é que se trata de uma profissional que manipula as palavras para impingir sua ideologia.
O ardil é usar o título para acusar o governo de ser responsável por um desastre ambiental, torcendo para que essa ideia (que ela mesma faz ver que é falsa) se fixe na cabeça de um eventual leitor desmiolado.
E pouco adianta que, depois, contradizendo-se a si mesma ao admitir que possa haver um culpado ainda desconhecido, a blogueira venha a emendar o discurso, afirmando a responsabilidade de o governo reverter o desastre.
Ainda há outra sutileza no texto, que pode fisgar o leitor desavisado (não aquele que tenha um mínimo de crítica): ela descontextualiza, para que tenham outra conotação, palavras do presidente da República - a quem ela realmente pretende atingir.
Quando se faz uma citação, usam-se expressões entre colchetes para contextualizá-la. Jennifer não o faz, optando pela ambiguidade. Sendo que o tema central é a responsabilidade do governo, ela finaliza retomando a falsidade do título. E faz parecer que Bolsonaro está se esquivando, transcrevendo uma fala dele que começa assim: "uma certeza: não é do Brasil, não é responsabilidade nossa".
É o vazamento que não é "responsabilidade nossa", eis o que disse o presidente. A blogueira não quer, mas Bolsonaro está certo.
Segundo Olívia Oliveira, pesquisadora do Instituto de Geociências da Universidade Federal da Bahia, o material coletado nas praias atingidas não coincide com o petróleo produzido no Brasil, sendo provável que o óleo tenha origem venezuelana.
Seja como for, o tal blog segue a linha editorial de Veja. Aliás, essa patifaria travestida de jornalismo é praticada, todos os dias, por jornais como Folha de S. Paulo, O Globo, Zero Hora, pelo pessoalzinho da Globo News, pelo Jornal Nacional e muitos mais.
Mas, nem por isso cabe qualquer forma de "controle da mídia": a censura desejável é a efetuada pela crítica do leitor, que cancela assinatura, que muda de canal, que se recusa a consumir produto desonesto.
Por sinal, pelo que se está observando, a Revista Veja está prestes a cair de podre. E, com ela, os seus penduricalhos, como o blog de Jennifer Ann Thomas. Se assim ocorrer, será por escolha do público num processo altamente civilizado de rejeitar uma revista que, há muito, não respeita o jornalismo e, agora, nem os jornalistas.
Renato Sant'Ana é advogado e psicólogo - sentinela.rs@uol.com.br