Meu patrício, o Papa Francisco
J. J. Duran
Quando estava na milenar Europa por força de meu exílio, tive a oportunidade de frequentar as rodas que faziam na Praça do Vaticano muitos jornalistas que acreditavam no poder da Igreja Católica. Nelas aprendi que o Vaticano não seria o Vaticano sem suas intrigas palacianas e sórdidas tramas entre os que tinham a ambição de se sentar no trono do velho Pedro.
Todos os papas sofreram os efeitos dessas disputas. João Paulo I morreu um mês depois de ter assumido seu pontificado por razões que seguem até hoje guardadas nos claustros fechados dos conventos e rodeadas de interrogações e da esperança de que algum dia a verdade possa ser finalmente conhecida.
João Paulo II enfrentou durante seu papado rusgas e tentativas divisionistas desenvolvidas desde o púlpito pelo tradicionalista cardeal francês Marcel Lefevre, um crítico ferrenho do Concílio Vaticano II. Sua maior luta foi contra a permissão para que as missas não fossem mais rezadas em latim, mas na língua do celebrante. Excomungado, se vingou de Roma fundando a Fraternidade São Paulo X sem a aceitação do Vaticano.
Ferozes também foram os ataques sofridos por Bento XVI, que, isolado, renunciou ao trono oito anos depois de assumir com a auréola de intelectual quase completo e profundo conhecedor das tramas que agitam o Vaticano.
Desde sua assunção de Jorge Bergoglio, o Jesuíta, um peronista vindo das terras geladas da Patagônia e membro proeminente da Igreja da periferia (dos pobres), enfrenta situações desafiadoras, a começar pela dúbia exortação apostólica Amoris Laetitia, na qual foi questionado por um grupo de cardeais sobre a conduta da Igreja Católica em relação aos divorciados. Que voltem para casa e sejam recebidos com amor e respeito, respondeu.
Seu papado hoje é visivelmente desafiado sob a liderança do cardeal norte-americano Raymund Burke, capitão de um grupo ultraconservador que luta nas sombras para levá-lo à renúncia. Com ele se alinha o cardeal Carlos Viganò, ex-núncio dos EUA respaldado pelo instituto NAP, da família Koch, e pelo similar Acton, comandado pela discreta Betsy DeVos, secretária norte-americana de Educação e dona da empresa Amway, além de Thomas Managham, principal líder da tradicional Legatus.
Resistente às pressões, o jesuíta peronista, conselheiro silencioso de muitos dissidentes platinos no tempo do Governo Vilela e hábil construtor de muros, agora vai nomear 13 novos cardeais escolhidos por serem entusiastas renovadores das velhas práticas do Vaticano para encarar de frente a nova realidade que vivem a Igreja Católica, o mundo e toda a juventude.
J. J. Duran é jornalista e membro da Academia Cascavelense de Letras