Mulheres no campo: força e desigualdade
Ontem (15), foi lançado no Brasil e em mais 13 países o livro Lutadoras. A obra traz 37 artigos abordando a realidade das mulheres do campo em distintos países e as políticas públicas voltadas a elas. Os textos discutem também suas reivindicações por melhores condições de vida e garantia de mais direitos.
O livro é uma iniciativa do IICA (Instituto Interamericano de Cooperação para a Agricultura), em parceria com outras organizações. Entre os artigos, 41 autoras discutem os diversos aspectos das lutas das mulheres rurais.
O cenário retratado nos textos é de desigualdade. As mulheres produzem metade dos alimentos do mundo e cerca de 80% da produção na maior parte dos países em desenvolvimento. "Contudo, correspondem a 60% das pessoas com fome no globo, têm menos de 15% das terras no mundo e menos de 2% das propriedades nos países em desenvolvimento", disse na cerimônia de lançamento a especialista em gênero do IICA Cristina Costa.
EMPODERAMENTO
Hernán Chiriboga, representante do IICA no Brasil, disse que os projetos liderados por mulheres passaram de 10% para 31% de 2012 para 2019."Mulheres estão tomando liderança do agro brasileiro. São dados importantes que queremos trazer. Esperamos que o livro seja uma ferramenta para valorizar o papel da mulher no campo?, disse.
Segundo o coordenador da Região Sul do IICA, Caio Rocha, o livro ressalta a equidade e de empoderamento para trabalhadoras do campo. "Empoderamento não é um ato político em si. Ele depende de políticas públicas, para acesso a crédito, para a questão dos mercados, para economia criativa, as mais variadas políticas públicas", disse.
O IICA ouviu 2.000 mulheres, 500 delas no Brasil, sobre a avaliação de sua condição e seus anseios. Do total, 90% das mulheres ouvidas manifestaram orgulho de pertencer ao agronegócio agrícola. Mas 80% das entrevistadas colocavam a questão da discriminação como um fator ainda relevante que impactava salários.
As mulheres ouvidas demandaram mais reconhecimento do seu quadro e das jornadas duplas que fazem. Também houve reivindicação por educação e instrução formal, bem como maior representação em organizações produtivas e políticas, como cooperativas.
INSERÇÃO E EXCLUSÃO
O livro aborda essas e outras temáticas em seus capítulos. Em seu texto, a representante da Secretaria Geral da Faculdade Latino-Americana de Ciências Sociais, Josette Borbón, ressaltou o papel das mulheres no desenvolvimento dos territórios rurais da América Latina e Caribe, assegurando estabilidade e sobrevivência de suas famílias. Quase metade dos alimentos consumidos, diz a acadêmica, seria gerado por trabalhadoras rurais.
A pesquisadora assinala melhorias na condição das mulheres, como diversificação da atividade produtiva e ampliação dos níveis educacionais, superando os homens. Além disso, são beneficiadas com programas de transferência de renda, como o Bolsa Família no Brasil. Contudo, elas ainda estão excluídas em diversos aspectos. Os programas sociais, por exemplo, auxiliam mas chegam apenas a 20% dos lares rurais da região. Outro ponto de ainda baixa cobertura é a previdência para mulheres rurais.
No âmbito da divisão do trabalho, ainda ficam mais restritas geralmente aos minifúndios de subsistência, com pouca participação em empregos de segmentos de maior produtividade, como na agropecuária (20%, contra 53% dos homens). Além disso, pela ocupação com tarefas familiares não remuneradas, elas têm dificuldades de obter renda suficiente.
"A mulher rural depende do apoio decisivo das políticas públicas para poder fazer a transição para a produção intensiva e industrializada; para que possa ter segurança ante as emaças potenciais a seu cultivo; e para poder se inserir, de forma equânime, nos mercado de produção", acrescentou a vice-presidente da República Dominicana e embaixadora da FAO (Organização das Nações Unidas para a Alimentação e Agricultura), Margarita Cedeño, em outro texto do livro.