O modelo vigente
J. J. Duran
O ultraconservadorismo religioso, que desenvolve uma espécie de guerra santa contra a democracia liberal, tem no presidente Jair Bolsonaro seu expoente mais fiel e aguerrido e os principais ideólogos desse movimento político-religioso são o filósofo esotérico Olavo de Carvalho e o diplomata de terceira linha Ernesto Araújo.
Esses dois gurus defendem há longo tempo as teorias e os postulados políticos, econômicos e educativos do conservadorismo de matriz religiosa. E diga-se que o conservadorismo é altamente dogmático precisamente pela chegada ao cenário político de variados dogmas religiosos com forte respaldo na Bíblia Sagrada.
Evidente que nem todas as igrejas evangélicas e dispersos agrupamentos católicos são fundamentalistas, porém o são aqueles que pregam o fundamentalismo como base única para sua interpretação do conteúdo existente no Livro dos Livros.
O conteúdo doutrinário bíblico tem a riqueza das riquezas, dizia São Agostinho, e gravita sabiamente entre o modelo vigente, chegando a ser expoente do integracionismo do século XXI.
No Brasil atual há várias organizações paraeclesiais com dirigentes altamente politizados e cuja atuação é fundamental para a difusão e o enriquecimento dos fundamentos religiosos pelos quais se guia o acionar político do governo.
Mas trata-se de uma atuação balizada no respeito à diversidade de credos, costumes e regras não escritas, porém ativas e que modulam a formação da sociedade em um Estado laico. Os olavistas, como são chamados, e os seguidores de Araújo representam, na essência, a intelectualidade orgânica do modelo.
As palavras fraternais e atualizadas com o momento global ditas pelo jesuíta-peronista Jorge Bergoglio refletem o pensamento mais avançado dentro da Igreja romana, colocando a "igreja da periferia"como exemplo de acatamento dos ensinamentos seculares baseados nas Sagradas Escrituras e que fundamentam o milenar catolicismo.
Alheios à conduta das inteligências intrigantes, que preferem focar o tosco, porém autêntico, discurso de Bolsonaro - exatamente igual ao que o levou a conquistar a Presidência -, devemos reconhecer que, assim como os líderes do populismo de esquerda dogmática recorriam à filosofia hegeliana para fundamentar suas pregações, os religiosos messiânicos invocam a divina providência como gestora de seus atos.
Isso ajuda a explicar o fato de Bolsonaro reconhecer que na democracia presidencialista quem governa não manda, pois quem realmente manda é o Parlamento.
J. J. Duran é jornalista e membro da Academia Cascavelense de Letras