A política binária nas redes
Rubens Bueno
A implantação do sistema binário foi sem dúvida um marco na evolução tecnológica mundial. Possibilitou uma verdadeira revolução da informática e colocou o mundo na palma de nossa mão. Os códigos binários que transitam hoje por nossos smartphones são a base de um canal de comunicação de poder imensurável. No entanto, seu uso é capaz, ao mesmo tempo, de promover enormes avanços, mas também retrocessos.
Na política essa evolução tem reflexos preocupantes, principalmente nas discussões travadas pelas redes sociais. Em muitas ocasiões, temos a impressão de que o sistema binário se incrustou no pensamento dos usuários dessa tecnologia. Em grande parte, seja qual for o tema, o resultado é 0 ou 1, certo ou errado, contra ou a favor, herói ou vilão.
O debate está sendo deixado de lado. Ódio e intolerância se alastram. E as diferenças, tão fundamentais para a construção de uma sociedade mais justa e saudável, se tornaram motivos para um confronto direto, desrespeitoso, e que vai além de qualquer parâmetro mínimo de civilidade. A política se tornou batalha campal nas redes, onde vale desde a desqualificação do adversário até a propagação de mentiras e promoção de campanhas de destruição de reputações. A meta é a desconstrução.
E a política é a arte de se construir consensos. É assim desde o início da história da humanidade. Pouco se aprende com os iguais. As diferenças, o que o outro sabe e eu não sei, o pensamento divergente são fundamentais para a evolução humana.
Como se tornou uma ferramenta poderosa, o comportamento das redes por vezes se transfere para as casas legislativas e para as discussões em diversos poderes. Quem xinga mais e acua o adversário parece obter uma vitória. Pura ilusão. Trate-se de uma postura que dificulta cada vez mais a solução de problemas e afasta campos políticos que poderiam interagir, amigos que não mais se abraçam e famílias que se distanciam.
O pensamento binário não é bom conselheiro. Existem outras inúmeras fórmulas de relacionamento mais eficazes para a evolução não apenas da política, mas de toda a relação humana.
A tecnologia é bem-vinda, mas ainda precisamos pensar.
Rubens Bueno é deputado federal pelo Cidadania do Paraná