Não é fake news: Gilmar Mendes nasceu de novo
No dia em que a maioria dos ministros do STF decidia solenemente rasgar o Código de Processo Penal e firmar um entendimento que pode livrar da cadeia dezenas de bandidos do colarinho branco, a sessão da Suprema Corte foi ofuscada por uma revelação bombástica dos jornais Estadão e Folha e da revista Veja.
Os três veículos publicaram, de forma simultânea, uma entrevista em que Rodrigo Janot tornou público o principal segredo de sua passagem à frente da Procuradoria Geral da República: um plano não consumado de assassinar o ministro Gilmar Mendes, que a esta altura pode comemorar o fato de ter nascido de novo.
Janot chegou a engatilhar a arma e ficar a menos de dois metros do ministro, mas não conseguiu efetuar o disparo. O motivo da ira foi um ataque de Gilmar à filha do então procurador-geral. "Esse inspetor Javert da humanidade resolveu equilibrar o jogo envolvendo a minha filha indevidamente. Tudo na vida tem limite. Naquele dia, cheguei ao meu limite. Fui armado para o Supremo. Ia dar um tiro na cara dele e depois me suicidaria. Estava movido pela ira. Não havia escrito carta de despedida, não conseguia pensar em mais nada. Também não disse a ninguém o que eu pretendia fazer", contou Janot.
"Esse ministro costuma chegar atrasado às sessões. Quando cheguei à antessala do plenário, para minha surpresa, ele já estava lá. Não pensei duas vezes. Tirei a minha pistola da cintura, engatilhei, mantive-a encostada à perna e fui para cima dele. Mas algo estranho aconteceu. Quando procurei o gatilho, meu dedo indicador ficou paralisado. Eu sou destro. Mudei de mão. Tentei posicionar a pistola na mão esquerda, mas meu dedo paralisou de novo. Nesse momento, eu estava a menos de dois metros dele. Não erro um tiro nessa distância. Pensei: ?Isso é um sinal?. Acho que ele nem percebeu que esteve perto da morte", acrescentou.
O ex-PGR disse ainda que, depois de ter falhado no propósito de executar seu adversário, chamou seu secretário executivo, disse que não estava passando bem e foi embora. "Não sei o que aconteceria se tivesse matado esse porta-voz da iniquidade. Apenas sei que, na sequência, me mataria", concluiu.
Gilmar é um ferrenho crítico da Lava Jato. Em sessões do STF, costumava aproveitar seus votos para atacar também Janot, a quem diversas vezes chamou de bêbado e irresponsável.
Janot já apresentou ações ao STF alegando a suspeição de Gilmar para atuar em processos. Em maio de 2017, o procurador pediu o impedimento de Gilmar na análise de um habeas corpus de Eike Batista, com o argumento de que a mulher do ministro, Guiomar Mendes, atuava no escritório Sérgio Bermudes, que advogava para o empresário.
Ao se defender em ofício, Gilmar afirmou que Letícia Ladeira Monteiro de Barros, filha de Janot, advogava para a empreiteira OAS em processo no Cade (Conselho Administrativo de Defesa Econômica). Segundo o ministro, a filha do procurador poderia na época "ser credora por honorários advocatícios de pessoas jurídicas envolvidas na Lava Jato". Foi esse episódio que provocou a ira de Janot.
AJUDA PSIQUIÁTRICA
Como o assunto é grave e continua rendendo, Gilmar Mendes divulgou nota nesta sexta-feira (27) recomendando que Rodrigo Janot "procure ajuda psiquiátrica"e afirmou que o ex-procurador-geral "certamente não tem medo de assassinar reputações".
"Se a divergência com um ministro do Supremo o expôs a tais tentações tresloucadas, imagino como conduziu ações penais de pessoas que ministros do Supremo não eram. Afinal, certamente não tem medo de assassinar reputações quem confessa a intenção de assassinar um membro da Corte Constitucional do País. Recomendo que procure ajuda psiquiátrica", diz trecho da nota de Gilmar, que pediu a cassação do porte de arma de Janot e a proibição de sua entrada no STF, que ordenou busca e apreensão nos endereços do ex-PGR. (Fotos: AGBR)