Futuro da suinocultura está no mercado interno
"Nossa cadeia de suínos produz com qualidade e competitividade, mas precisa, com urgência, implementar estratégias eficientes para transformar estas vantagens competitivas em ganhos de mercado. Experiências bem sucedidas em outros países comprovam que precisamos nos organizar e investir concretamente, para assegurar um consumo crescente e constante, que não dependa de imprevistos ou episódios sanitários como os vividos atualmente pela China e outros países".
Segundo o diretor-presidente da Topigs Norsvin do Brasil, André Costa (foto), este foi o consenso a que chegaram 350 pesquisadores, técnicos, dirigentes de entidades do setor e suinocultores reunidos em Foz do Iguaçu, durante a terceira edição do Brasil Pork Event.
"Assim como a Rússia desenvolveu sua própria estrutura produtiva, a China, mais cedo ou mais tarde, estará recompondo seus planteis e reduzindo a atual demanda. Precisamos, sim, aproveitar as oportunidades externas, mas o grande potencial de crescimento está no mercado interno", observou.
Ainda de acordo com André Costa, os 210 milhões de brasileiros consomem, em média, apenas 16 quilos de carne suína por ano, volume muito inferior à média da grande maioria dos países. "Com um esforço organizado, podemos facilmente elevar esta média para 20 quilos ao ano. Isto equivaleria a um consumo adicional da ordem de 840 mil toneladas, muito superior as 685 mil toneladas que o Brasil exportou em 2018", acrescentou.
EXEMPLO ESPANHOL
Um dos palestrantes convidados, Gonçalo Pimpão, diretor da Topigs Norsvin na Espanha e Portugal, apresentou detalhes de como funciona a Interporc, uma organização que integra os diferentes elos da cadeia suinícola na Espanha, desde o criador ao frigorífico e distribuidor. A entidade é mantida com uma contribuição simbólica de cada participante, que, somada, representa a cada ano, algo próximo a 6,7 milhões de euros.
Com estes recursos, a Interporc desenvolve ações de marketing e institucionais, que abrem canais de comercialização interna e externamente, promovendo a imagem saudável, versátil e nutritiva da carne de porco espanhola, como parte integrante da cultura ibérica e da dieta mediterrânea. A população espanhola consome, em média, 66 quilos de carne suína per capita, quatro vezes mais que a média brasileira.
Outra iniciativa lembrada pelo presidente da Topigs Norsvin do Brasil é coordenada pela National Pork dos Estados Unidos, que conta com recursos da ordem de US$ 60 milhões anuais para a promoção das qualidades da carne suína norte-americana. "No Brasil, algumas entidades de representação, como a ABCS e Associações Estaduais, têm desenvolvido um trabalho excepcional, mas sem recursos e sem a adesão de todos os integrantes da cadeia, fica muito difícil", ponderou.
Segundo o diretor de Negócios e Marketing da Topigs Norsvin, Adauto Canedo, o exemplo da Espanha motivou entidades e lideranças presentes em Foz do Iguaçu para a necessidade de avançar em busca de mecanismos semelhantes para o Brasil. "Este deverá ser o tema de novos encontros, em breve", adiantou Adauto.
INOVAÇÃO
Maior evento de negócios do setor, o Brasil Pork Event é organizado a cada dois anos pela empresa de genética suína Topigs Norsvin e faz parte de um programa inovador de relacionamento da empresa com seus parceiros e diferentes elos da cadeia produtiva, chamado Connect.
Trata-se de um programa que prevê diferentes níveis de participação e benefícios, entre eles, treinamentos, assessoria no gerenciamento de reprodutores, layouts de laboratório e controle de qualidade, disponibilização de software de gerenciamento e atualização em genética, assistência técnica e até mesmo a contratação de consultorias especializadas e viagens técnicas.
A Academia Topigs Norsvin é um dos benefícios previstos no Connect. Através dela e mediante senha, são disponibilizados cursos, palestras e treinamentos à distância, além de eventos presenciais e in company. Seu objetivo é levar até os parceiros, informações que na maioria das vezes ficam restritas aos centros de pesquisa, universidades, congressos e conferências nacionais e internacionais. A academia também desenvolveu métricas de avaliação e emite certificações, visando especialmente a formação de mão de obra junto às granjas.
Na linha EAD, por exemplo, estão disponíveis palestras exclusivas com especialistas abordando temas como nutrição de suínos em crescimento e engorda, nutrição de fêmeas reprodutoras, antibióticos, imunologia e vacinologia, patologia dos suínos, entre outros.
ELITE GENÉTICA
Além de inovar no relacionamento com o mercado, a Topigs Norsvin também foi pioneira com o programa InGene, um sistema de produção em núcleo fechado, no qual após o povoamento com as bisavós, avós e matrizes F1, a granja passa a produzir sua autorreposição, recebendo apenas sêmen de machos bisavôs e avôs de alto valor genético. Neste sistema, o plantel de matrizes é integrado à base de dados Pigbase na Holanda, por meio de softwares de gerenciamento de granjas. Assim, o programa de melhoramento é conduzido dentro da própria granja sob a orientação, o acompanhamento e a supervisão dos técnicos da Topigs Norsvin.
O uso deste sistema reduz o custo genético e o risco sanitário, aumenta a biossegurança e o progresso genético pela maior proximidade com o topo da pirâmide genética, maximiza a adaptação das marrãs de reposição produzidas localmente e possibilita a customização de alguns critérios de seleção genética e fenotípica.
Esta nova postura em relação ao mercado, aliada a avanços genéticos como a TN70, considerada pelo mercado como a melhor matriz do mundo, resultou em gradativo avanço da Topigs Norsvin no cenário da genética de elite. Em 2015, a empresa detinha 17% de market share na linha fêmea. Hoje, 33% das fêmeas de elite do plantel brasileiro já levam a assinatura genética Topigs Norsvin.
TROCA DE EXPERIÊNCIAS
O Brasil Pork Event 2019, organizado pela Topigs Norsvin com o apoio de empresas de ponta como Tectron Tecnologia e Inovação, Dechra, Nedap, MSD Saúde Animal, Ceva, IMV Technologies e Vaccinar, passou a limpo a realidade, os desafios e as oportunidades que se abrem para o setor, além de discutir experiências bem sucedidas de promoção da carne suína desenvolvidas em outros países.
A programação incluiu as palestras técnicas "Perspectivas Econômicas do Setor", com professor Sérgio De Zen, pesquisador do Cepea; "O Agronegócio Brasileiro", com o agrônomo e ex-ministro da Agricultura, Roberto Rodrigues; "Novos rumos da suinocultura", com Gonçalo Pimpão, diretor da Topigs Norsvin para Espanha e Portugal; "Data makes pig talk", com o holandês Gerard Weijers, e "O sucesso e a saúde mental", com Elaine Souza e aula-show de cortes, técnicas e dicas de preparo de carne suína, com o especialista Carlos Tossi.
Um dos pontos altos do evento foi a mesa redonda "Suinocultura brasileira: realidades e oportunidades", com transmissão ao vivo pela internet. Coordenada pelo jornalista Tobias Ferraz (Canal Rural), ela contou com a participação de Marcelo Lopes (ABCS), Valdecir Folador (ACSURS), Valdomiro Ferreira (APCS), Losivânio Luiz De Lorenzi (ACCS), Thiago Bernardino (CEPEA), professor Márcio Duarte (UFV), Wienfried Leh (Grupo Leh's), Matheus Morais (Suinobras), Roberto Coelho (Grupo Cabo Verde) e Tiago Andrade (Granja Xerez) e Tarcisio Sachetti (Granjas Sachetti).