Redes sociais e atitude
Renato Sant'Ana
Para o bem e para o mal, as redes sociais fazem parte do cotidiano e afetam a vida de todo mundo. Fazem bem, quando cumprem o papel de informar ou, ao menos, estimular a que se busque a informação.
Quando, em 20/08/19, saiu a notícia de que Fernando Haddad tinha sido condenado, houve, nas redes sociais, uma reação instantânea.
Haddad figurou como candidato oficial do PT a presidente em 2018. Mas sua condenação foi por um crime praticado na campanha que o elegeu prefeito de São Paulo em 2012: falsidade ideológica eleitoral (caixa dois) - pena de quatro anos e meio de reclusão.
Mal saiu a notícia, as redes sociais reagiram, começando por replicar aquilo que, na campanha de 2018, o PT "apregoou"ou, se preferirem "advertiu"no slogan da campanha: "Haddad é Lula".
Sintética, a mensagem nas redes foi clara, propagando a ideia de que Haddad e Lula têm contas a pagar perante a Justiça. Ou, noutras palavras, que os dois são iguais. Ou, numa terceira e mais ácida abordagem, que Haddad e Lula pertencem à mesma facção.
Para efeito de opinião pública, a defesa de Haddad apressou-se em dizer que "não havia qualquer razão para o uso de notas falsas e pagamentos sem serviços em uma campanha eleitoral disputada". E foi além: "Não há razoabilidade ou provas que sustentem a decisão".
As redes sociais contra-atacaram com informação: a sentença condenatória registra que Haddad deixou de contabilizar R$ 2,6 milhões doados à campanha de 2012 pela UTC Engenharia, o que é ilícito.
Aliás, o Ministério Público afirma que ele "deixou de contabilizar valores, bem como se utilizou de notas inidôneas para justificar despesas". E acrescenta que a empreiteira UTC pagou R$ 2,6 milhões via caixa dois para custear serviços das gráficas LWC e Cândido Oliveira LTDA para a campanha de 2012.
É claro que redes sociais também são usadas para o mal. Querem ver? O mesmo Haddad, agora pela campanha de 2018, foi condenado no Tribunal Superior Eleitoral por "veiculação de propaganda eleitoral negativa mediante impulsionamento de conteúdo na internet", leia-se "robôs", "fake news"(Representação Nº 0601861-36.2018.6.00.0000).
Mas o fenômeno inafastável é que, hoje, redes sociais constituem uma variável formadora da opinião pública, para o bem e para o mal, repita-se. Se as encaramos com equilíbrio (saliente-se isso!), tirando proveito de sua ilimitada possibilidade de compartilhamento e tendo cautela com sua aptidão para expor o que há de luz e de sombra na humanidade, elas nos potencializam a acuidade crítica.
Mas, como enfrentá-las? Diz Guimarães Rosa: "Quem desconfia fica sábio". Para não embarcar nem ser veículo das famigeradas "fake news", a dica é sempre "checar"informações nos portais de notícia, que, embora nem sempre honestos, zelam pela própria credibilidade.
Em suma, o que se vê é que, com a enxurrada de informações das redes sociais, ficou muito difícil mentir sem ser desmascarado. E não há como não ser afetado por elas, sendo uma tremenda ingenuidade pretender ignorá-las: quem quiser ficar alheio será arrastado na correnteza.
Resta, pois, um quase imperativo de escolher como interagir nessa nova realidade: de modo construtivo ou destrutivo. As redes sociais têm sido e seguirão sendo fator de transformação, para o bem ou para o mal, dependendo da honestidade ou desonestidade de cada um.
Renato Sant'Ana é advogado e psicólogo - sentinela.rs@uol.com.br