O tratado Mercosul-UE
J. J. Duran
Ainda mal explicado ao povo, o tratado firmado pelo Mercosul com a União Europeia é o primeiro passo concreto para estabelecer uma efetiva relação comercial entre os países-membros dos dois blocos.
Na verdade, ainda serão necessários pelo menos mais dois anos para se dar forma e consistência prática ao que foi acordado, pois negociar nos níveis mais elevados dos interesses econômicos das nações envolvidas exige altíssimo conhecimento e elevada dose de paciência. A União Europeia tem longa tradição em tratados comerciais internacionais, mas esse não é o caso do Mercosul, ainda um aprendiz em acordos em bloco.
E nesse espectro negociador será vital o trabalho da representação brasileira, que precisará se inspirar muito em José Maria da Silva Paranhos Júnior, o Barão do Rio Branco, cuja inteligência negociadora o tornou o maior diplomata da história do País.
O sucesso do acordo depende de adaptações para adequá-lo às particularidades dos seus signatários, pois alguns países têm sua economia concentrada em pequenos setores industriais e na produção de commodities que interessam ao mundo globalizado, e outros são velhos expoentes do desenvolvimento industrial e tecnológico.
Nesse processo, os negociadores deverão sentar à mesa com a compreensão prévia de que, em tempos de globalização, não se pode olhar só para dentro das fronteiras, pois as atitudes dogmáticas não terão valor.
O cenário interno de cada bloco, seja no campo político, institucional ou econômico, tem forte gravitação. Assim, países como Brasil e Argentina, por exemplo, terão que realizar conjunção de fatos e respeitar seus interesses maiores, mas deixar de lado o valor referencial de suas commodities agropecuárias. E acima de tudo, terão que levar em consideração que tratados como esse são assunto de Estado e não assunto de política.
J. J. Duran é jornalista e membro da Academia Cascavelense de Letras