Os benefícios do uso de dejetos na agricultura
Werner Hermann Meyer
A Rede Paranaense de Agropesquisa e Formação Aplicada é uma iniciativa inédita no Paraná, voltada para a produção de resultados de pesquisa científica que respondam às necessidades dos produtores rurais. Para isso, foi lançada uma chamada pública para selecionar projetos de pesquisa financiados em uma parceria entre o Senar-PR, a Fundação Araucária de Apoio ao Desenvolvimento Científico e Tecnológico do Estado do Paraná e a Secretaria Estadual de Ciência, Tecnologia e Ensino Superior.
Em algumas regiões do Estado, o uso intenso de dejetos como fertilizante na produção agrícola tem gerado questionamentos quanto a eficiência, efeitos e resultados na melhoria das condições químicas, físicas e biológicas do solo e o impacto sobre o meio ambiente. Recentemente, alguns desses questionamentos foram respondidos por meio de um estudo realizado na região dos Campos Gerais, capitaneado por pesquisadores da Universidade Federal do Paraná, em parceria com a Fundação ABC, promovido pela Rede Paranaense de Agropesquisa. Outros trabalhos dessa natureza estão em desenvolvimento nas demais regiões do Estado, visando investigar o uso de dejetos em outras condições de solo, clima e manejo. Muitos resultados e recomendações já podem ser aplicados pelos produtores rurais.
A região dos Campos Gerais é voltada principalmente para a produção leiteira e, consequentemente, gera grande quantidade de dejeto líquido, usualmente aplicado na agricultura. Os benefícios da adubação orgânica nas lavouras são inegáveis. O uso de dejetos proporciona um acréscimo significativo na matéria orgânica do solo, além de acrescer macro nutrientes como fósforo, potássio e nitrogênio. Porém sempre houve dúvidas sobre o impacto do escorrimento superficial desses dejetos, transportando-os e assim causando contaminação dos cursos d?água.
Os ensaios mostraram, dentro das condições do experimento, que a aplicação de dejetos, ao contrário do que muitos pregam, proporcionou redução na perda de carbono do solo em relação à parcela que recebeu somente adubação química. Além disso, as pesquisas mostraram que, nas áreas onde a aplicação foi feita de pelo menos dez dias antes da primeira chuva, o uso de dejetos promoveu um aumento na taxa de infiltração de água no solo, tendo como consequência a redução no escorrimento superficial. Isso implica em uma redução nas perdas de nutrientes e a promoção de melhores condições de desenvolvimento para as plantas. Os efeitos no solo foram de redução na perda de água e nutrientes, reduzindo significativamente a contaminação dos cursos d?água. A pesquisa propõe para a região dos Campos Gerais a aplicação de até 60 m³/ha/ano de dejetos bovinos.
Respeitado o intervalo recomendado, de no mínimo dez dias entre a aplicação e a ocorrência de chuva na lavoura, o dejeto que inicialmente causa um selamento dos poros do solo, passa, após um período inicial, a ter um efeito inverso e benéfico na estrutura da terra, além do aporte de nutrientes, proporcionando redução no custo de produção e dando uma destinação adequada ao que antes era considerado passivo ambiental.
Para a aplicação segura e eficiente de dejetos animais na agricultura não se pode abrir mão do acompanhamento e orientação de um engenheiro agrônomo. Mais informações podem ser obtidas no site www.redeagropesquisa.pr.gov.br. (Imagem: Embrapa)
Werner Hermann Meyer é técnico do Sistema Faep/Senar-PR e secretário-executivo do Programa Integrado de Conservação de Solo e Água do Paraná