Alta da suinocultura ainda não beneficia os integrados
O fim do embargo russo e a abertura do mercado asiático protagonizaram para a suinocultura brasileira um cenário positivo nunca visto antes, mas isso ainda está longe de ser motivo de satisfação para produtores que trabalham pelo sistema de integração. Levantamento realizado nos dois últimos meses pelo Sistema Faep/Senar-PR constatou que o boom do setor ainda não chegou aos donos dos chiqueirões.
O roteiro percorreu as regiões Sudoeste, Oeste e os Campos Gerais, reunindo produtores, lideranças e representantes de empresas do setor para compilar os dados necessários para uma análise de rentabilidade da atividade. A metodologia utilizada foi inicialmente desenvolvida pela Embrapa e aperfeiçoada pelo mestre em economia rural e consultor da Faep, Ademir Francisco Girotto.
"Fizemos reuniões com os suinocultores de cada região para verificar os sistemas de produção e as variações que podem acontecer e acontecem. Além disso, também tivemos participação das agroindústrias e vendedores de equipamentos e insumos, para que todos estejam em consenso acerca dos números", aponta Girotto, ressaltando que o estudo envolveu a cadeia produtiva de forma integral.
Para o presidente da Comissão Técnica de Suinocultura da Faep, Reny Gerardi, os resultados do levantamento em mãos servem de referencial para as negociações com o setor industrial. "Precisamos de um parâmetro, para poder sentar à mesa e discutir os preços de comercialização. Se o produtor não tem os números da sua atividade, fica mais difícil argumentar em relação aos custos e negociar o preço recebido", destaca.
Após um ano bastante conturbado para a atividade, a mudança de cenário já pode ser percebida pelos produtores, com o aumento das exportações e preços melhores em relação ao ano passado. Porém, os reajustes não atingiram todo setor.
"As integradoras ainda não repassaram os preços do mercado aos produtores integrados. O produtor independente já está tendo resultados satisfatórios, principalmente pela peste suína na China. O integrado ainda não. Agora vamos ter condições de exigir uma remuneração adequada", acrescenta Girotto.
Os resultados dos custos de produção mostram essa disparidade. Dos modelos analisados em sistema de comodato, ou seja, quando a empresa integradora ou cooperativa fornece, sem custos, os animais, alimentação, produtos veterinários e assistência técnica, ao produtor integrado, apenas um obteve saldo positivo nas três regiões. Isto é, somente a unidade Crechário, da região Oeste, indica que seus suinocultores integrados estão tendo seus custos de produção cobertos.
A falta de reajustes para o produtor nesse sistema acaba desencadeando uma série de prejuízos para o setor paranaense, pois mais de 50% da produção de suínos do Estado ocorrem a partir da integração vertical. Segundo Gerardi, isso mostra que o suinocultor paranaense que trabalha de forma integrada ainda está vivendo o ano de 2018, ou seja, com prejuízos.
"A integração no Paraná é muito forte, principalmente na região Oeste. Hoje o produtor integrado sabe que o independente está comercializando o produto praticamente pelo dobro em relação ao ano passado. Enquanto o produtor integrado não viu essa porcentagem de aumento", argumenta Gerardi.
Para o presidente da APS (Associação Paranaense de Suinocultura), Jacir Dariva, sem esse reajuste, o produtor integrado acaba pagando duas vezes. "Estão colocando todos os suinocultores no mesmo balaio. Com o levantamento, os produtores terão uma fonte segura que mostra todas as realidades do setor", ressalta.
DESCOMPASSO
A granja Peretto, no município de Dois Vizinhos, na região Sudoeste, possui uma unidade produtora de leitões desmamados com 800 matrizes. Após mais de dois anos sem reajuste no preço pago pela empresa integradora, a granja recebeu apenas 3% este ano. "Esse valor não é condizente com a realidade. Vimos as melhorias no mercado, em relação ao custo dos insumos e preço do quilo de suíno. Sem contar o aumento que tivemos com alguns gastos, como mão de obra e equipamentos", aponta Graciano Peretto, responsável pela administração da granja.
Além desse suporte nas negociações, Peretto destaca a importância de o produtor ter um comparativo com outras granjas para analisar os custos. "Às vezes, temos algum gasto mais elevado e não percebemos, algo que podemos cortar ou mesmo diminuir. Tendo isso em mãos, a gente consegue ver com mais clareza", destaca.
No Oeste, a situação se repete. A granja Mielke, em Marechal Cândido Rondon, também sente os reflexos da falta de reajuste nos preços pagos pela agroindústria. Jhéssica Mielke, segunda geração a frente dos negócios da família, afirma que não houve aumento de rentabilidade em relação ao ano passado. "Estamos trabalhando abaixo da margem. O que recebemos não cobre nossos custos", queixa-se.
Com a alta dos preços no mercado suíno, a família esperava uma melhoria nos lucros, que não aconteceu. A granja, que produz leitões desmamados, está em processo de ampliação para 1,8 mil matrizes. "O que recebemos não cobre nem os investimentos. Se não tivermos o retorno esperado, vai ficar bem complicado", desabafa Jhéssica. (Foto: Divulgação Faep)