Guerra de mídia
Por Renato Sant'Ana
Convém sempre repetir que, para o bem da democracia, governos precisam ser criticados. Não faz sentido, pois, pretender que o governo Bolsonaro seja imunizado contra críticas.
Agora, o que é mesmo criticar? Será que um texto carregado de adjetivos e totalmente desprovido de análise, que faz uma caricatura para dinamitar a imagem do presidente da República, pode ser visto como exercício crítico?
É espantoso que alguém, do primeiro ao último parágrafo de um artigo, queira fazer crer que Bolsonaro é desvairado, burro, alheio à realidade e inconfiável. Pois foi o que fez a jornalista Marli Gonçalves, num libelo intitulado "A torto e a direita", um primor em degenerescência.
Ora, gostaríamos que Bolsonaro fosse o Winston Churchill dos trópicos, com a elegância, a ironia fina, com o senso de humor do grande estadista inglês. Mas ele é só o homem simples que, apesar disso, foi o único a prestar-se como aríete para romper com um poder fortificado que arrastava o Brasil para um regime totalitário.
Era sabido que, eleito, ele seguiria usando a linguagem da caserna, dizendo o que pensa, sem rodeios e em palavras toscas. Ainda assim, nada há de errado em que se critique a sua incontinência verbal.
Só que não é crítica o que Marli Gonçalves faz, ao dizer de Bolsonaro sem pronunciar-lhe o nome: "A boca abre e dela só saem impropérios, ataques, frases incompletas, palavras comidas, plurais despedaçados, uma visão de mundo desconectada". E por aí vai, tentando usar de ironia, mas não conseguindo ir além de uma grosseira vulgaridade.
A jornalista teria toda legitimidade para discordar das atitudes, das falas, da visão de mundo de Bolsonaro, e expor sua crítica. Ela, porém, optou por fazer uma caricatura, exacerbando alguns traços e inventando outros, para, ao sabor do próprio azedume, falsificar a imagem de um monstro - um ataque rasteiro sem sequer um verniz de jornalismo.
Criticar é outra coisa. Merval Pereira, por exemplo, foi duro ao dizer que "Bolsonaro está levando o governo brasileiro como se estivesse em uma mesa de botequim, ou no Twitter, ou em outro meio digital desses onde cada um dá seu pitaco sem precisar provar nada (...)". E o fez sem sequer ponderar que esse governo é atacado como jamais se viu.
Pode haver exageros e distorções na opinião de Merval Pereira, mas ofensa não há. E se a questão é pôr o Brasil acima de tudo, então o mais sensato - por parte do presidente e seus apoiadores - é respeitar a crítica e tomá-la como um desafio de aprimoramento.
Mas há aspectos que a crítica honesta não pode ignorar. O governo vem cumprindo uma agenda altamente positiva de mudanças estruturais e transformação do país, a qual avança com pouca visibilidade na fumaça das discussões inúteis e da "bateção de coca"amplificada pela "extrema imprensa"que mantém guerra cerrada contra o governo.
É sob ataque o tempo todo, que o presidente reage na base do"bateu, levou", motivo para que Marli Gonçalves torça os fatos e diga: "Se perguntam ou pedem explicações, ele fecha a cara, interrompe a conversa, depois ataca quem perguntou". Claro, ela jamais ponderaria que quando tratado com o respeito que o cargo requer, ele, em tom sincero e coloquial, afirma valores muito caros à maioria dos brasileiros.
Agora, por que dar atenção a Marli Gonçalves, se há tanta gente com grife e mais célebre que faz o mesmo? É que seu texto de grêmio estudantil conseguiu ser uma síntese da militância midiática engajada numa guerra cuja única vítima só pode ser o país, não o governo.
E a guerra vai continuar, até porque está garantida a liberdade de imprensa. Sim! Bolsonaro jamais cogitou adotar o que previa o programa de governo do PT, isto é, o truque do controle social da mídia. O que ele terá de rever é o gasto de energia para responder a provocações rasteiras enquanto a população desconhece a agenda positiva do governo.
Renato Sant'Ana é advogado e psicólogo - sentinela.rs@uol.com.br