Polêmica sobre agrotóxicos é conspiração contra o Brasil
A falsa democratização da informação protagonizada pelo advento das redes sociais, uma espécie de cavalo chucro sem rédeas para melhor entendimento do homem simples do campo, tem representado um alto preço para a agricultura brasileira, principal pilar da economia nacional.
Fake news (notícias falsas) disseminadas nos diferentes aplicativos e por veículos de imprensa que não zelam pela ética da informação transformaram em verdade uma das maiores mentiras da atualidade: a de que em nenhuma outra nação do mundo há tamanha concentração de pesticidas quanto a existente na alimentação do brasileiro.
Em uma pesquisa detalhada, o Alerta Paraná identificou que o Brasil realmente é o maior consumidor de agrotóxicos do mundo em números absolutos, seguido dos Estados Unidos, China, Japão, França, Alemanha e Canadá. Mas também que Brasil fica atrás de Japão, Coreia do Sul, Alemanha, França, Itália e Reino Unido no consumo desses produtos quando levada em conta a área plantada. Em outras palavras, o alimento aqui produzido contém menos agrotóxicos que o produzido nos países integrantes da última lista. Campeão da longevidade, o Japão utilizava em 2017 oito vezes mais agroquímicos que o Brasil proporcionalmente à área cultivada.
E esses dados não são frutos de chutômetro, mas sim de um estudo da Organização das Nações Unidas para Alimentação e Agricultura (FAO, na sigla em inglês), feito pela consultoria de mercado Phillips McDougall e utilizado como referência tanto pelas indústrias do setor agroquímico, quanto por especialistas da área e ambientalistas desprovidos de ideologia partidária.
VENDA DIMINUI
Essa polêmica toda foi ainda mais impulsionada pelo fato de o governo brasileiro ter liberado o registro de 262 novos produtos apenas de janeiro a julho deste ano, um recorde desde 2009, o que fatalmente vai aumentar a concorrência e reduzir os preços para o agricultor.
Vale ressaltar, no entanto, que entre 2016 e 2017 o número de registros quase dobrou, saltando de 277 para 405, sem que isso representasse um incremento no uso desses produtos nas lavouras. Naquele período houve aumento da área plantada, mas a comercialização de defensivos recuou de 541,8 mil toneladas para 539,9 mil toneladas.
Especialistas sustentam que o aumento do número de produtos registrados de aumento do consumo, que depende da incidência de praças nas lavouras e também do clima. "A quantidade de registro destes produtos não tem relação direta com o uso de no campo", sustentou o professor de Agronomia da UFPR (Universidade Federal do Paraná), Arthur Arrobas, em entrevista para a revista da Faep (Federação da Agricultura do Estado do Paraná).
Segundo o docente, pode ocorrer exatamente o inverso, pois "ao não dispor de uma variedade de produtos com ações diferentes de controle, o produtor, muitas vezes, por conta de quantidade escassa de informação, busca alternativas como utilizar dois produtos, ao invés de apenas um, para ter eficácia". Dessa forma, uma oferta maior de alternativas de controle poderá resultar num uso mais eficiente e, por consequência, menor de agroquímicos.
ESCLARECIMENTO
Ainda sobre a aprovação do registro de novos produtos este ano, o Sindiveg (Sindicato Nacional da Indústria de Produtos para Defesa Vegetal) veio a público para esclarecer alguns pontos. Segundo a instituição,"é preciso explicar que há dois tipos de produtos que foram aprovados: os técnicos e os formulados. O primeiro grupo - que representa cerca de metade dos registros de 2019 - refere-se à matéria-prima, ou seja, produtos que serão utilizados na fabricação de um produto formulado, o que significa que não serão comercializados diretamente para utilização no campo".
O Sindiveg também aponta que, em relação à quantidade de produtos formulados, todos os novos registros são de novas marcas comerciais que já eram disponibilizados no mercado anteriormente."Isso significa mais opções para o agricultor e não um aumento na quantidade de produtos utilizados no campo?, ressaltou a entidade. (Foto: Sistema Faep)