A China e a questão da PSA
Cesar da Luz
Sobre a questão PSA na China e as oportunidades de negócios para a suinocultura brasileira, gostaria de analisar objetivamente o tema e dar-lhes um exemplo prático e objetivo para meditarem.
China: plantel de 500 milhões de suínos. Com a PSA, estima-se que ocorra uma redução de até 40% do plantel, o que significaria uma perda de 200 milhões de suínos.
Brasil: 36 milhões de suínos. Ou seja, pouco mais de 7% do plantel da China.
O Brasil exporta 15% do que produz. E do volume exportado, atualmente cerca de 30% é destinado para China e Hong Kong. Ou seja, o País exporta para os chineses cerca de 4,5% do volume total das exportações de carne suína.
Traduzindo isso num exemplo fácil de entender: caso uma família precise de 100 kg de arroz todo mês, e perca 40 kg desse total, precisando repor seu estoque. Será que você, que tem apenas 7 kg de arroz disponível e repassa atualmente a terceiros o equivalente a 15% do seu estoque de arroz, e ainda, desse volume, já está passando cerca de 30% para esta família, o que equivale a um total de somente 490 gramas, a questão é: você teria condições de atender a necessidade dela, diante da sua repentina perda de 40 kg? Outra pergunta: arriscaria investir e teria condições para isso em um curto período de tempo para atender a imensa demanda por arroz de parte daquela família, sendo que para ela, não pode repassar todo o volume que você queria, por questões de exigências sanitárias?
É sobre essas duas simples e objetivas questões que o produtor de suínos do Brasil precisa meditar.
A oportunidade de negócio existe e a ampliação das exportações de carne suína brasileira já é um fato. Porém, o caminho mais imediato para se aproveitar a questão PSA na China é aumentar as exportações dentro de um patamar que não provoque uma corrida desenfreada por novos investimentos para ampliação das plantas atuais ou construção de novas, tendo por consequência problemas de ajustes internos quando a situação estiver resolvida no território chinês.
Pode-se ajustar a questão do destino da produção entre comércio doméstico e exportações, mas jamais, o Brasil ou qualquer outro produtor de suínos do mundo terá plenas condições de atender a demanda chinesa por carne suína pós PSA. Isso sem mencionar, no caso do Brasil, da necessidade de se ter o fomento e as plantas de abate no padrão exigido pelos chineses e por eles habilitadas.
É bom o produtor brasileiro meditar no exemplo do arroz e agir com sabedoria neste momento.
Precisamos aquecer o mercado interno, aumentar o consumo per capta, garantir vazão à produção nacional e valorizar mais o produto. É nessa direção que a cadeia deve andar. Pelo menos é o que defendemos!
Daqui a pouco a coisa se ajusta na China e a oferta volta a estar descontrolada aqui. Quem pagará a conta, como sempre, será o produtor. É disso que estamos falando!
E, por fim, cuidar do maior patrimônio do produtor de proteína animal do Brasil, neste contexto todo: a sanidade animal. E quando sobrar receita, que se invista em genética, automação nas granjas, meio ambiente e naquilo que garanta melhor rentabilidade a quem produz, além de qualidade de vida para o produtor e sua família.
Cesar da Luz é, jornalista, escritor, palestrante, consultor e pesquisador do agronegócio e diretor do Grupo C.Agro