Fake news
Luiz Claudio Romanelli
"As mídias sociais deram o direito à fala a legiões de imbecis que, anteriormente, falavam só no bar. O drama da internet é que ela promoveu o idiota da aldeia a portador da verdade"- Umberto Eco.
O interessante é que eu já abordei por diversas vezes o perigo que se transformou a internet com as "fake news" (notícias falsas) e infelizmente novamente fui vítima da mesma notícia falsa criada em 2017.
Em entrevista ao El Pais, para falar sobre seu novo romance The Golden House, o escritor Salman Rushdie diagnosticou com precisão os tempos que vivemos: "São tempos de uma cultura da ignorância agressiva. Na Internet coexistem no mesmo nível de autoridade as verdades e as mentiras", disse.
As redes sociais, especialmente o Twitter, Facebook e o Whatsapp, criados para ser plataformas de interação, estão se transformando em território livre para disseminação de mentiras e todo tipo de ódio.
Esse é um assunto que ganhou relevância a partir da ultima eleição presidencial norte-americana, marcada pela criação de sites dedicados a difundir fake news e a "plantar"rumores falsos no Facebook. Entre os boatos difundidos, mentiras de que o presidente Obama era muçulmano radical e gay.
O Congresso dos Estados Unidos abriu várias investigações sobre o tema e o Facebook encontrou mais de três mil perfis que compravam publicidade para incentivar o clique nesse tipo de conteúdo.
Aqui não foi diferente, uma verdadeira guerrilha tomou conta da última eleição presidencial e de lá pra cá só piorou. Oportunistas e mal intencionados usam as redes sociais para atacar, ofender e se possível arrasar com reputações de quem ousa pensar diferente ou contra quem consideram adversários e mesmo inimigos. Muitos perderam qualquer noção de civilidade e de respeito e revelam nas redes sua falta de caráter e seus piores preconceitos. Artistas e jornalistas negros foram vitimas de manifestações racistas. Muitos são crucificados nas redes sociais por manifestarem-se contrariamente ou a favor ao de alguém ou de algum tema. Nas redes é cada vez mais intensa a campanha de ódio fomentada por milícias digitais disfarçadas de movimentos apartidários.
Aliás, políticos são o alvo preferencial dessa gentalha que se especializou em espalhar falsidades e manipular parte da opinião publica.
Semana passada fui novamente alvo de uma dessas milícias, que patrocinou posts em que me retratava como traficante de drogas. A ação foi orquestrada por gente acostumada a bater e esconder a mão, escória da escória. A malta assanhou-se novamente e engendrou nova armação.
Usaram imagens de uma carreta de transporte de asfalto apreendida com drogas proveniente de Naviraí (MS), cuja empresa não é de minha propriedade e nem dos meus familiares. O caminhão não é de fabricação da empresa Romanelli de Cambé, mas graças à manipulação e à mentira espalhou-se nas redes sociais que sou bandido e traficante de drogas e armas, para o MST e sindicatos.
Já tomei das providencias necessárias para identificar os autores da infâmia e eles serão acionados judicialmente, assim como os que irresponsavelmente reproduziram a mentira. sem apuração nem checagem.
Para assassinar reputações, nada mais eficaz do que uma mentira baseada em verdades ou sutilmente envolta nelas. Conceitos como pós-verdade, pós-mentira e pós-censura e revela como acontece a popularização das crenças falsas.
Embora hoje tudo seja verificável e não seja fácil mentir, ele mostra que essa dificuldade pode ser superada com dois elementos básicos: "A insistência na asseveração falsa, apesar dos desmentidos confiáveis; e a desqualificação de quem a contradiz. E a isso se soma um terceiro fator: milhões de pessoas prescindiram dos intermediários de garantias (previamente desprestigiados pelos enganadores) e não se informam pelos veículos de comunicação rigorosos, mas diretamente nas fontes manipuladoras (páginas de Internet relacionadas e determinados perfis nas redes sociais)".
Segundo ele, vivemos "a paradoxal situação de que as pessoas já não acreditam em nada e ao mesmo tempo são capazes de acreditarem em qualquer coisa".
Um dos grandes desafios para a nossa sociedade e para a política, será combater a proliferação de noticias falsas.
Tenho refletido sobre uma forma de responsabilizar o que circula na internet, e ao mesmo tempo garantir a liberdade de expressão e manifestação do pensamento: "CF 88, art. 5º, inciso IV - é livre a manifestação do pensamento, sendo vedado o anonimato". Na nossa Constituição esse é um direito fundamental, cláusula pétrea. Como mitiga-lo? É simples, o mesmo dispositivo proíbe o anonimato, portanto se a Lei passasse a exigir, todo texto, vídeo, ou foto, que fosse produzido, deveria ter a identificação do responsável e a data da sua produção. Certamente as empresas detentoras das redes sociais passariam a ser responsabilizadas e teriam que agir rapidamente para reparar os danos causados pelas Fake News.
Aos navegantes, especialmente aos que usam as redes sociais para destilar seu ódio e mau caratismo, uso a sabedoria popular: os cães ladram e a caravana passa. Vocês não passarão.
Luiz Claudio Romanelli é advogado e especialista em gestão urbana e deputado estadual pelo PSB do Paraná