A Operação Vaza Jato
J. J. Duran
A polarização política brasileira é idêntica à argentina. A pergunta que mais nos fazemos é como agir quando chega às nossas mãos o chamado material sensível proveniente de escutas telefônicas conseguidas por meios judiciais, de forma criminosa ou de origem questionável.
Nos últimos tempos tem sido frequente a divulgação de diálogos envolvendo figuras do poder circunstancial nos quais o tema e seu desenvolvimento colocam em dúvida a credibilidade e a honestidade republicana dos interlocutores e produzem consequências desastrosas na opinião pública.
Quando se referem a temas de pouca repercussão institucional e política, como foram os diálogos entre a ex-presidente Dilma Rousseff e seu antecessor Luiz Inácio Lula da Silva, no estupor inicial os não domesticados logo passaram a pensar se tinha sido válido o vazamento por parte do Poder Judiciário.
Para os contrários ao populismo, foi uma iniciativa válida e serviu para mostrar quão profundas eram as raízes que sustentavam a corrupção. Já para os demais foi um atropelo desleal que maculou a biografia de detentores da mais alta investidura republicana.
No entanto, quando se referem a questões de repercussão mais ampla, como é o caso da Operação Lava Jato, envolvem uma complexidade ainda maior, e a pergunta que se faz é se é lícito se valer da difusão de diálogos produzidos em relação direta com fatos de visível repercussão, já que nem sempre a liberdade de expressão significa um direito para dar publicidade a acontecimentos com gravíssimos efeitos colaterais.
A chilena Francisca Stornic, integrante do Consórcio Internacional de Jornalistas Investigativos e da Fundação FNPI, escreveu em recente ártigo que"as comunicações de cunho privado obtidas por consentimento judicial podem resultar em peças chaves para esclarecer delitos e culpados ocultos". Porém, acrescentou ela,"dar conhecimento de informação privada que afete modos e formas de procedimentos judiciais deve ser motivo de ampla, imparcial e profunda meditação".
Informar com checagem de fontes referenciais é dever de todo aquele cidadão que está de posse de dados sobre um fato de interesse público. Mas a informação supostamente secreta é essencialmente epidêmica e malévola quando afeta as instituições em defesa de interesses menores.
J. J. Duran é jornalista e membro da Academia Cascavelense de Letras