Tite e a controvérsia
Por Renato Sant'Ana
Na entrega da premiação aos brasileiros campeões da Copa América, no último dia 7, o treinador da seleção de futebol, Tite, fez ostensiva demonstração de antipatia pelo presidente da República.
Ao receber das mãos de Bolsonaro a medalha de campeão e não mostrar mínima cordialidade, ele deixou claro que não tinha, no ato, motivo de júbilo e que não ia com a cara do presidente. Foi deselegante.
Guardadas as devidas proporções, a encenação fez lembrar o petista André Vargas, um dos cascudos da quadrilha apanhada na Lava Jato. Em fevereiro de 2014, na solenidade de abertura do ano legislativo, com a protocolar presença do ministro Joaquim Barbosa, presidente do STF (e chefe do Judiciário), Vargas, então deputado (PT-PR), comportou-se como um impertinente moleque de grêmio estudantil.
Sentado ao lado do ministro, fez várias vezes o gesto típico de erguer o punho cerrado: ele imitava a atitude de José Genoino e José Dirceu ao serem presos, condenados ambos no Mensalão. Vargas ainda teve o deboche de fazer "selfies"com o ministro. E numa troca de mensagens ao celular com um amigo, disse ter vontade de dar-lhe uma cotovelada.
Mas, além de constranger Joaquim Barbosa, relator do Mensalão e algoz de seus amigos corruptos, era para a "militância"que ele fazia a encenação. Na codificação petista, aquilo significava "resistência", como a dizer: "A esquerda não se curva à Justiça!"
Só para constar, erguer o punho cerrado é um gesto universal dos comunistas, mescla de ameaça, provocação e tripúdio - arrogância pura.
À época, o petista era vice-presidente da Câmara, mas sem compreender o significado nem a liturgia do cargo. E o que fez foi ignorar o simbolismo da presença de Barbosa, que ali representava um poder da República, o Judiciário. Ao afrontar o ministro, Vargas revelou seu desrespeito pelas instituições republicanas.
É nesse ponto que Tite tem um paralelo com Vargas. Ele comanda a seleção canarinho, a qual, queiramos ou não, tem, para a nação, um caráter simbólico: a nacionalidade se produz no imaginário do povo. Sem que se lhe superdimensione a importância, o treinador também é uma instituição e uma entidade que transita no imaginário do público. Então, será correto ele usar o cargo para expressar sua ideologia?
Ele confundiu a pessoa do presidente com a instituição. E ao mostrar antipatia por Bolsonaro, escolhendo lado na bipolaridade da política nacional, provocou forte reação, sobretudo em redes sociais.
André Vargas, ano e meio depois da pantomima, foi condenado na Lava Jato a 14 anos e 4 meses de prisão por corrupção passiva e lavagem de dinheiro.
Tite, cuja idoneidade não está em debate, não se confunde com André Vargas, que é um repulsivo criminoso. Mas se não revisar sua postura, vai acabar sem ambiente no Brasil, haja vista a reação que sua atitude segue provocando.
Se ele percebesse as mudanças, talvez adotasse outra atitude: há um ressurgimento dos símbolos nacionais. Quer dizer, o brasileiro voltou a respeitar seus símbolos e a devotar amor à pátria.
Para terminar, fique claro, o seu direito a ter opinião é sagrado. Afinal, foi para defender a liberdade de pensamento, entre outros valores, que, em 2018, o povo brasileiro (que ora reage) derrotou o programa de governo que pretendia venezuelizar o Brasil.
Renato Sant'Ana é advogado e psicólogo - renatos21@uol.com.br