O discurso da reconstrução
J. J. Duran
Nas teorias da comunicação sobre política existe, em determinados países indo americanos, o vocábulo"decreto informativo?, que procura provocar uma reação no leitor. O decreto vocabular é todo implícito e esconde a mensagem dirigida a determinado ambiente leitor com cristalizado conhecimento cultural e econômico.
Neste tempo dos governos de peseudo esquerda, esquerda cultural e populistas, chegamos ao momento em que os partidos políticos tradicionais e os surgidos nos tempos do desconcerto social procuram se recompor da forte desvalorização sofrida nas últimas décadas, quadro que se reproduz também em muitos países do velho continente.
Os partidos chamados tradicionais deixaram de ser agentes representativos de uma determinada classe socioeconômica ou cultural. Hoje, podemos afirmar que as cúpulas partidárias são uma espécie de orquestra composta solenemente de solistas nas quais as opiniões pontuais são divergentes, porém com sentido eleitoreiro e não de clarificação temática. Assim, é normal que um ato discursivo mal ensaiado ou feito sem afirmar conceitos ou clarificar opiniões produza verdadeira ecatombe.
Em nosso Continente, ouve-se constantemente o discurso da reconstrução da República feito pelos governantes que sucederam o populismo das décadas recentes. Bem organizado e com claríssima intenção revogatória do passado, esse discurso encerra com um pedido de união nacional para assegurar a governabilidade.
Tanto na Argentina do empresário Maurício Madri, convertido em político graças a uma boa gestão à frente de um dos clubes de futebol mais populares do Continente, quanto no Brasil do ex-capitão Jair Bolsonaro, o conteúdo discursivo é um chamado à reflexão de todos, e não apenas de uma parte do povo, sobre a situação gravíssima enfrentada por ambos os países.
Vivemos em um momento em que o conteúdo discursivo não tem mais a mesma relevância, porém ainda é determinante. E Macri e Bolsonaro são expressões incontestáveis de que, neste novo conceito de democracia e governabilidade, a realidade supera a intencionalidade declamatória.
Mas hoje o discurso é mais retrospectivo e não tem o mesmo efeito do tempo da contenda eleitoral, por isso, para alguns seletos observadores, pode produzir efeitos negativos para o próprio governo. Não há mais espaço para o discurso da reconstrução. O momento é de mostrar ações práticas para concretizar o que foi prometido.
J. J. Duran é jornalista e membro da Academia Cascavelense de Letras