Ideologia não enche barriga de ninguém
J. J. Duran
O que se observa diante de uma massa de quase 13 milhões de brasileiros que perambulam em busca de emprego é algo degradante e incompatível com as promessas feitas durante mais de uma década, de plena ocupação e desenvolvimento social.
Um governo, seja qual for sua posição política-ideológica, tem a obrigação de amparar esse enorme contingente que perambula pelas ruas da desolação. Tem o dever de transformar essa imensa massa humana em um contingente produtivo e consumidor.
Retardar a busca da solução desse problema e atribuir a esperança salvadora às reformas em curso apenas agrava a situação. A reforma das leis trabalhistas criou um horizonte magnífico no mercado laboral para milhões de brasileiros e essa oportunidade não pode ser desperdiçada no esforço para calar o grito silencioso daqueles que seguem esperando pelo milagre tantas vezes prometido.
Muito grandes são as dificuldades que têm o atual governo para colocar um pouco de ordem no bagunçado tabuleiro sócio-laboral, mas elas não resultam apenas da dimensão da legião de desempregados ou da gravidade da crise econômico-financeira que vive o País.
A gravidade do momento resulta da conjunção do desemprego com a diminuição da nossa capacidade de enfrentá-lo e só pode ser superada de forma organizada e consensual com o vasto e complexo mapa socioeconômico vivido. Problemas ainda maiores e mais graves foram superados pela República no passado.
Os discursos inflamados do ministro Paulo Guedes e do presidente Jair Bolsonaro não são suficientes para despertar do longo retardo acumulado pela sociedade brasileira nos últimos tempos.
A preocupação reformista hoje domina o País pensante e não domesticado pela corrupção e traduz desejos de mudança e de progresso econômico e social para todos, mas não é suficiente por si só.
A perplexidade e a desesperança de muitos nesse novo tempo resulta da ausência de um projeto nacional articulado em torno do qual seja possível ao governo pavimentar o caminho da solução.
Não se mata a fome puramente com ideias, mas com ações concretas que permitam ao cidadão lutar dignamente pela sua sobrevivência. De idealistas bem intencionados os cemitérios já estão cheios. (Foto: José Cruz/AGBR)
J. J. Duran é jornalista e membro da Academia Cascavelense de Letras