Exército detalha operação para acolher venezuelanos
Com a instalação do regime ditatorial na Venezuela, mais de quatro milhões de pessoas já deixaram o País. A mais grave e duradoura crise política, econômica e institucional faz com que muitos abandonem tudo em busca de uma nova oportunidade de recomeçar. Um dos países procurados pelos dissidentes é o Brasil, que recebeu mais de cem mil pessoas nos últimos anos. A situação é grave e o Exército Brasileiro foi chamado para ajudar e a organizar o processo de chegada dos venezuelanos, que ocorre pela fronteira seca de Pacaraima, no estado de Roraíma.
A Operação Acolhida e foi detalhada na manhã desta quarta-feira (3) a diretores da Acic pelo capitão adjunto da Célula de Interiorização Bruno Lopes Ribeiro e pelo sargento da 15ª Brigada de Infantaria Mecanizada Jair Chagas. Antes do início da participação do Exército o nível de miséria dos imigrantes era absoluto."Não havia comida, abrigo e praticamente nenhuma perspectiva", conta capitão Bruno. Com a Acolhida, criou-se uma estratégia para reduzir o impacto da chegada de um número tão grande de pessoas ao mesmo tempo ao País.
Depois da recepção acontece o acolhimento, com a identificação de cada recém-chegado e sua alocação em abrigos. Somente em Boa Vista, capital de Roraíma, há 13 instalações com média de 500 pessoas cada. Ali, recebem alimentação, medicamentos e têm uma cama para descansar. A terceira etapa da operação é a descentralização, justamente para evitar os sérios problemas sociais que estavam ocorrendo em Pacaraima e Boa Vista e distribuir, de forma lógica e sensata, os imigrantes por diferentes regiões do País.
Capitão Bruno informou que, para que a distribuição ocorra, é importante ter empresas e indústrias como parceiras. "Estamos à procura de parceiros, de empresários que possam dar oportunidade aos venezuelanos. Mas é bom que se diga: eles não vão tirar o emprego de ninguém. Buscamos apenas aquelas vagas que estão sobrando justamente porque, por um motivo ou outro, não são preenchidas por trabalhadores brasileiros", afirma o militar. Caso exista o interesse, então o Exército entra com toda a logística de apoio, inclusive com o transporte dos imigrantes até a cidade. Atualmente, são 21 mil os cadastrados que desejam integrar a Operação Acolhida, trabalhar, ter renda e a chance de um recomeço.
A mão de obra que chega ao Brasil é qualificada, porque só deixa a Venezuela quem tinha razoável padrão de vida e de informação para entender o que ocorre politicamente no país. "São médicos, engenheiros, professores. Muitos com mestrado e até doutorado", diz capitão Bruno. Devido às dificuldades da jornada, muitos se deslocam a pé pelo território venezuelano até chegar ao Brasil. "Muitos são jovens e têm a aparência envelhecida, reflexo das sérias provações a que foram submetidos", acrescenta. A Operação Acolhida ajuda também na seleção do pessoal ou a empresa interessada, por conta própria, pode fazê-la.
Há apoio inclusive, nas cidades que receberem os imigrantes, para o abrigamento dos venezuelanos, resultado de parceria das Forças Armadas com a ONU e outras ongs. Existem dois regimes de recepção aos dissidentes. Refugiado ou residência temporária, e apenas no último, depois de cumprir prazos e outras exigências, é que então o imigrante poderá morar definitivamente no Brasil. Apesar desse esforço governamental, mais de 500 venezuelanos cruzam a fronteira todos os dias. (Foto: Assessoria Acic)