Lava Jato: é preciso manter o ímpeto de 2013
Renato Sant'Ana
Era com irreverência que dizia um gaúcho da campanha: galinhas comemmilho; nunca se viu uma galinha de óculos; logo, milho faz bem aos olhos.
Tem lógica? Não! Como brincadeira vale, mas nem silogismo é. No entanto, equivale ao simulacro de lógica dos senadores que, como no vídeo que me enviam com a fala do Sen. Paulo Rocha (PT-PA), tentaram inutilmente emparedar o ministro Sergio Moro na audiência da CCJ.
Traduzidas em linguagem civilizada, as grosserias de suas excelências ficam assim: o juiz Moro ganhou muita notoriedade com os julgamentos da Operação Lava Jato, tornando-se um ídolo nacional. É a premissa. E a conclusão vigarista: foi para fazer sensacionalismo e ficar famoso que Sergio Moro condenou Lula et caterva. (Não só o PT, mas vários partidos têm representantes na cadeia);
Sem decoro, Paulo Rocha foi além: "A Lava Jato tinha como norte principal ganhar o apoio popular por meio do sensacionalismo". Mas qual é a base fática para tal acusação? A quem se destina a sua fala? Pretenderia convencer os seus pares? Influenciar futuras decisões dos tribunais superiores em favor de seu chefe (Lula)?
Esses senhores, que só sabem fazer "política de poder"(e o Brasil que se exploda!), estavam pregando para os convertidos de modo a manter-lhes a fé, a fidelidade e a militância.
Por sinal, muitos deles pertencem à elite partidária que move os cordéis da militância fanática como num teatro de fantoches. Na pantomima da CCJ, faziam afirmações estapafúrdias sem explicitar fundamentos, afinal a substância do fanatismo é "crença", não "conhecimento", sem lógica nem raízes na realidade, tanto faz se é o fanatismo do religioso, do torcedor no futebol ou do militante ideológico.
Pois foi para mentes fanatizadas, de raciocínio emperrado e com a inabalável convicção dos que carecem de conhecimento, que o petista Paulo Rocha, em ataque ao Judiciário, ao Ministério Público e à Polícia Federal, teve o peito de dizer: "Quebraram inclusive nossas multinacionais para entregar ao capital". Que belo sofisma...
Mas quem quebrou: a quadrilha que desviou BILHÕES da Petrobras e doutras estatais, ou a força-tarefa que deteve essa récua de ladravazes?
Ora, só um maluco daria ouvidos à dona do bordel que recomenda castidade. Na mesma medida, ninguém esclarecido e honesto leva a sério o discurso puritano de uns quantos senadores enredados em processos criminais. Nem a fanfarronice dos que simplesmente estão a defender criminosos presos por corrupção, os quais , contando com os melhores advogados, tiveram julgamento com todas as garantias processuais.
Não, a força-tarefa da Lava Jato não é uma congregação de vestais. E não está imune a críticas. Só que, nessa história, são duas as verdades que gritam ao observador atento. Uma é que todos (todos!) os atos da Lava Jato são submetidos a instâncias superiores, o que é garantia de lisura. Outra é haver um esforço dos tais senadores - assim como de muitos deputados, da "extrema imprensa", etc. - para desmoralizar a Lava Jato e manter o Brasil refém dos corruptos organizados.
O momento é delicado. Mas é preciso ter em vista o lado positivo da coisa. Em 2013, foi a voz das ruas - nada de intelectuais, políticos ou qualquer espécie de cacique -, sim, foram brasileiros nas ruas que provocaram a fantástica mudança de rumo que salvou o Brasil de uma ditadura igual à da Venezuela. Claro, a obra está longe de ser concluída. É preciso, pois, manter o ímpeto de 2013.
Renato Sant'Ana é advogado e psicólogo - renatos21@uol.com.br