O discurso pede sabedoria
J. J. Duran
"Seja humilde, siga os conselhos dos mais sábios, modere suas expressões, pois ainda não passou à História"- Cícero Marco Tulio.
Belo conselho do maior orador que teve Roma a. C. aos homens públicos que, por imposição do cargo e do protocolo, têm que fazer assíduos discursos para mutantes plateias. Muitos governantes que não conheceram essa magnífica frase e terminaram mal seus mandatos republicanos.
Na democracia, ao ser eleito o governante recebe da maioria da sociedade a possibilidade de escrever na sua passagem pelo poder uma límpida página republicana e deixar como referências a sabedoria e o humanismo.
Desde que passou a euforia do triunfo político temos ouvido que o novo governo não tem o direito de errar. Bandeiras antigas como transparência, combate à corrupção endêmica e a necessidade de implementar um novo modelo de administrar os bens da República, que são os bens do povo, estão de volta à tona.
O governo da meritocracia, da não concessão do jogo da troca de apoio pelos benefícios desejados pelo Parlamento e do discurso ácido exige fortes doses de sabedoria e austera reflexão do conteúdo das entrelinhas.
As análises conceituais sobre o passado recente e a culpabilidade no traçado da história da República não podem ficar circunscritas às autoridades que usaram de seus mandatos para transformar instituições oficiais em bancos privados para alimentar a efêmera quimera de novos ricos, pois a corrupção teve um sócio privado majoritário chamado capitalismo e que poucas vezes é mencionado no discurso oficial.
O saque ao erário é um tremendo delito, porém a defraudação moral e de princípios feita pelos que governaram de braços dados com a corrupção é um delito ainda maior, de lesa Pátria. Por isso, quando o presidente fala, transmite o recado de um povo que acreditou no discurso da campanha e agora espera o cumprimento dos compromissos assumidos.
Hoje, diante de uma oposição raquítica e de uma base aliada ainda incipiente, a mensagem de Jair Bolsonaro tem que ser realista e não ideológica.
Não pode o presidente esquecer que existem quase 13 milhões de brasileiros perambulando à procura de trabalho, irmãos nossos sem tempo ou coração para ouvir falar de ideologia.
J. J. Duran é jornalista e membro da Academia Cascavelense de Letras