A síndrome dos Jotas será vencida?
Alceu A. Sperança
A cada eleição o Brasil anseia por um mago ou fada madrinha com varinha de condão que resolva de vez crônicos problemas de 500 anos e dispare a bala de prata capaz de matar o monstro de oito cabeças das crises política, industrial, ambiental, habitacional, climática, educacional, criminal e sanitária que atormenta a nação.
Crenças variadas, rancores antigos e novos, malucos de todas as castas tentam culpar inimigos e propor soluções milagrosas para os problemas. Memes, receitas, orações e rezas buscam um milagre que inclui vencer a síndrome dos Jotas: presidentes com nomes de inicial"J"sempre foram amaldiçoados com pressões e sofrimentos que pouparam os de iniciais menos castigadas. É uma síndrome falsa, pois os presidentes de qualquer inicial sofrem pressões e vivem tragédias. Mas por ser recente, a inédita facada recebida pelo ainda candidato Jair Bolsonaro reforçou a crença no"J"trágico.
Pedro II, Prudente de Moraes e Washington Luís, sem jotas, também sofreram atentados. O imperador e Prudente saíram ilesos, mas WL foi atingido. Em todo o caso, não se pode negar que deposição, renúncia, perseguições, golpes e muita pressão acompanharam os Jotas presidentes.
Do STF à Presidência
Com Júlio Prestes tudo corria bem até vencer a eleição presidencial de 1930. Havia sido, em 1926, o"Posto Ipiranga"de Washington Luís na elaboração do Plano de Estabilização Econômica e Financeira, os"ajustes"da época. Depois venceu facilmente as eleições para governar São Paulo. Eleito presidente da República, é o primeiro líder brasileiro a ser capa da revista Time e promete sob aplausos mundiais que o Brasil nunca será uma ditadura. De volta, uma revolução o impede de assumir a Presidência. Pede asilo na embaixada britânica, vive quatro anos no exílio e ditaduras vieram.
Vargas derrubado em 1946 por um golpe militar, o próximo"J?, José Linhares, presidente do STF, fica na Presidência por três meses. Nesse curto período não faz nada além de ganhar o apelido de José Milhares, referência ao montão de parentes e compadres que nomeou.
Juscelino Kubitschek foi atacado na campanha eleitoral e sofreu tentativas de golpes em todo o governo. Morreu em um controvertido acidente automobilístico, em 1976. Jânio Quadros comprou briga com a imprensa, não quis negociar com o Congresso e renunciou em 1961. Empossado, seu vice, João Goulart, foi deposto pelo golpe do 1.º de abril de 1964. Morreu em um episódio controverso, a exemplo de JK e também em 1976.
Plano bombástico
Atacado por dentro e por fora do governo, João Figueiredo, o presidente encarregado pelos militares de pôr fim à ditadura, em outubro de 1978 ameaçou prender e arrebentar quem fosse contra a democracia. Em 30 de abril de 1981 explode uma bomba no Riocentro arrebentando um capitão e matando um sargento contrários. Até o melhor feito de JF - a Anistia - é bombardeada ainda hoje.
Com o presidente Tancredo Neves enfermo na véspera da posse e morto pelo agravamento da doença, José Sarney assume um governo pontilhado de tensões e fracassos, como o Plano Cruzado,"coroado"com a entrega da faixa presidencial ao desastroso Fernando Collor.
O próximo J, Bolsonaro, recebe antes da eleição a facada que causará as primeiras dores de seu governo repleto de indecisões e recuos. Como está só no início, poderá ser o primeiro J a começar mal e se sair bem, concluindo o mandato em céu de brigadeiro, como conviria a um paraquedista.
Alceu A. Sperança é escritor e jornalista - alceusperanca@ig.com.br