Irreflexões do poder
J. J. Duran
O nacionalismo como expressão ideológica balançou entre a direita liberal e a esquerda socialista do século XX em muitos países do Continente. Mas foi mais evidente nos países que têm uma classe média sem preparo político e uma minoria com muito dinheiro e escassa cultura. E os primeiros movimentos do Governo Jair Bolsonaro parecem se destinar a destruir essa combinação equacional.
Para os opositores, o nacionalismo pode ser um tumor maligno que chega ao mundo socioeconômico da República trazendo à luz do debate o tema da ideologia num momento em que o mundo globalizado já perdeu a noção do que realmente significa ideologia. Os avatares impostos pelo desenvolvimento da comunicação motivam o simples homem da rua a compreender que o mais importante hoje é ter um emprego e poder voltar vivo para o lar ao fim de cada dia. Economia e segurança substituem o pensamento político-ideológico.
Já para os detratores do pseudo socialismo do século XX, travestido de personalismo corrupto que gerou banquetes com a propina do capitalismo e deixou migalhas ao povo, o nacionalismo deve se manter dentro dos marcos ditados pela lei.
É lamentável que ambas as correntes de pensamento tenham em comum a manifestação cansativa de que todos os problemas enfrentados pelo povo sempre são culpa de seus oponentes políticos. Pela falta de criatividade, tudo se reduz a uma cantilena sem sentido prático e aumenta o fosso que separa cada vez mais a sociedade.
Acusar sem reflexões positivas para o futuro é um primarismo inaceitável no mais alto extrato do poder republicano. O passado recente ou distante deve ficar nas páginas da História escrita por aqueles que a vivenciaram.
O Brasil reclama por reformas urgentes e que o atualizem com o espírito deste momento difícil que vive o mundo. A História recente de nosso espoliado Continente revela de maneira inconclusa que os regimes democráticos, quando divorciados da verdadeira justiça social, não resolvem nenhum problema, apenas ampliam catastróficos conflitos.
Robert McNamara, de fidelidade insuspeita ao capitalismo, advertiu nos idos anos de 1960 que"quando as pessoas altamente privilegiadas passam a ser poucas e os desocupados passam a ser muitos, aumenta a urgência da reflexão sábia".
O dínamo de toda reforma em tempo de democracia é o Parlamento. É no Legislativo que se debatem as grandes soluções para os grandes problemas nacionais.
J. J. Duran é jornalista e membro da Academia Cascavelense de Letras