Demagogia, filhocracia feudal e democracia
J. J. Duran
A disfuncionalidade do Estado e os apelos da sociedade para virar a página triste da imoralidade republicana deram passagem democrática para o aparecimento de figuras políticas sem grandes biografias, mas que também não tinham máculas.
A esperança está em que essas ignotas figuras sejam capazes da reconstrução moral e material da República. Porém, passado o fervor da contenda eleitoral, essa mesma sociedade se converteu em observadora permissiva dos atos do seu governo. Os mais experientes temem que estejamos no caminho do mandato consolidado da autocracia.
Reveste-se de vital importância que o Congresso eleito por esta mesma sociedade, os governantes, os meios de comunicação e os esqueléticos partidos políticos se revistam de postura sólida e coerente com a realidade vivida pela República para que, dentro do amplo espaço que oferta o sistema democrático, possamos debater os diferentes momentos que vive a nova governabilidade.
O aceno da demagogia, seja da direita ou da esquerda, deve nos fazer raciocinar que muitos daqueles que votaram pela mudança hoje sentem o abandono das muitas palavras ditas no tempo da campanha. Manter uma postura de austero controle do aparto republicano muitas vezes requer desapontar alguns e alegrar outros.
Segundo Aristóteles,"muitas vezes o demagogo e o adulador têm manifesta semelhança; ambos têm crédito ilimitado, um perante a tirania e outro perante o povo corrupto".
A corrupção é um mal cancerígeno que vive em simbiose com a democracia e sempre é berço do líder carismático, e ignorar o passado é ofender aqueles que sofreram perseguição na luta pela recuperação moral e material da sofrida República.
A filhocracia feudal que tenta germinar dentro do poder democrático é resultante de uma afetividade familiar transbordante que, por vezes, ultrapassa a sutil barreira do privado-familiar para o público, que pertence a todos.
A democracia que vivemos permite a diversidade de pensamentos e a dissidência com ética, e é burrice pretender a aprovação unânime de um governo que busca reconduzir o País ao bom caminho.
Difícil é sair, como sociedade, de um pesadelo que nos entregaram hipocritamente aqueles a quem a classe mais injustiçada depositou a sua esperança por justiça social.
Divergir é parte destes momentos de incerteza, mas a confiança e a fé nos traçam o caminho correto.
J. J. Duran é jornalista e membro da Academia Cascavelense de Letras