Apagão da luz e reforma tributária no escuro
Alceu Sperança
Resolver o apagão de energia, como tudo que o povo reclama e o Estado nega, depende de recursos públicos. Os privados só vão para onde há lucro assegurado. Estão contidos agora pelas guerras de Trump, que trazem insegurança, e pelas eleições incertas. Juros sobem lá e o dólar cá. O mundo treme.
Aqui, o legado do presidente Michel Temer é a equação estagnação=estabilidade. Parar evita gastos, desenvolver tem custo. Se o Brasil crescer os 3% esperados depois do sacrifício do povo com a recessão haverá apagão energético, estimam com sólida base os coordenadores do Programa Oeste em Desenvolvimento (POD).
Mesmo crescendo metade do estimado - Meirelles falava até em 4% -, o apagão não está descartado. Viver cercados por um mar de energia e sofrer apagões é absurdo. Imagine o efeito disso nos lares, granjas, produção leiteira. Na indústria, máquinas quebrando e desconfiguradas.
As necessidades de infraestrutura requerem aportes entre R$ 250 bilhões e R$ 300 bilhões ao ano. De onde tirá-los se o "legado" é congelar gastos e cortar o pouco que ainda se gasta? Demitindo servidores das escolas e postos de saúde quando mais necessitam de pessoal e equipamentos?
Recursos, custeio, investimentos públicos, tudo depende de arrecadação. Como aumentá-la, se a carga tributária já chegou ao limite tolerável?
"Com a contribuição dos mais ricos", dizem os pobres, propondo tributação progressiva. "Cada um dando um pouco de si", dizem os ricos, pela manutenção da regressiva. "Um pouco, quanto? Proporcional ou desigual?", pergunta a classe média desconfiada.
Com os trabalhadores exauridos e a plutocracia sem ceder, adivinhe quem está na mira para pagar a conta. Sim, ela mesma, a desconfiada.
Alceu A. Sperança É escritor e jornalista - alceusperanca@ig.com.br