PR vai lucrar muito mais como área livre da aftosa
A última barreira para o Paraná ser reconhecido como área livre de febre aftosa sem vacinação caiu. O Mapa (Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento) aprovou a antecipação da retirada da vacina contra a doença ao término da campanha de imunização que terá início no próximo dia 1º de maio próximo.
A confirmação aconteceu em reunião iniciada ontem e encerrada hoje, em Curitiba, com representantes do órgão federal e diversas entidades do setor agropecuário do Paraná, Santa Catarina, Rio Grande do Sul, Mato Grosso do Sul e Mato Grosso, que integram o Bloco V do Programa Nacional de Erradicação da Febre Aftosa.
"Essa era praticamente a última etapa para o Paraná dar continuidade ao processo para obter o status de zona livre de febre aftosa. Nossos pecuaristas precisam realizar essa vacinação [de maio] corretamente para podermos, de forma definitiva, caminhar com as etapas que, futuramente, irão permitir ao Estado acessar mercados que pagam mais pela qualidade", comemorou o presidente do Sistema Faep/Senar-PR, Ágide Meneguette.
VANTAGENS
A suspensão da vacina tem inúmeros desdobramentos positivos para o agronegócio estadual, principalmente para as cadeias de proteína animal. A prova é Santa Catarina, que com o status de área livre de aftosa sem vacinação, consegue acessar mercados que pagam mais pela carne, como a Coreia do Sul. Em 2017, por exemplo, a tonelada do frango paranaense foi exportada por US$ 1.595,65, em média, enquanto que a tonelada da ave de Santa Catarina foi comercializada em média por US$ 1.867,98, valor cerca de 17% superior.
Elias Zydek, diretor-executivo da cooperativa Frimesa, classificou a conquista do Paraná como histórica. "O que ganhamos com esse avanço é imensurável, passamos a outro momento histórico. Para nós, das cadeias produtivas pecuárias, significa sentar na mesa de negociação internacional em outro patamar. Aquelas barreiras que nós tínhamos, vão cair", comemorou. "Isso significa em números, na cadeia de suínos, por exemplo, uma conquista de 65% do mercado ao qual não tínhamos acesso, e que a partir do momento que sair o certificado da OIE nós vamos começar a vender", previu.
Ainda de acordo com estudo da Adapar, o novo status sanitário permitiria ao Paraná dobrar as exportações de carne suína, das atuais 107 mil toneladas para 200 mil toneladas por ano. Este cenário é previsto se o Paraná conquistar apenas 2% do mercado potencial, liderado por Japão, México e Coreia do Sul, que pagam mais pelo produto com reconhecida qualidade sanitária, e representam 64% do comércio mundial de carne suína. Com o reconhecimento de área livre de febre aftosa sem vacinação, o Paraná poderia exportar, sem restrições, para esses países que compram cerca de 5 milhões de toneladas de carne suína por ano, o equivalente a seis vezes as exportações atuais.
O diretor da Frimesa prevê que nos anos seguintes ao novo status será possível acessar um mercado que representa em torno de 3 milhões de toneladas de carne suína anualmente. "Hoje, o Brasil exporta 600 mil toneladas por ano. Imagina o que é isso, poder entrar nesse mercado. É a nova redenção da suinocultura do Estado do Paraná. Sem contar que vamos poder acessar os mercados que pagam melhor, nos quais hoje o Paraná está fora. Nós vendemos para os mercados periféricos da Ásia, como Hong Kong e Singarupa, mas ainda não vendemos para o Japão, que paga 20% a mais", disse.
LONGO CAMINHO
"Foram décadas de trabalho até chegarmos ao estágio atual, que comprova que estávamos certos em colocar esforços nesta luta, que trará inúmeros benefícios aos produtores paranaenses de todas as proteínas", esclareceu Ágide Meneguette.
Inicialmente, a última etapa de imunização do rebanho bovino e bubalino do Bloco V, o qual o Paraná integra, seria apenas em maio de 2020. Porém, como o Estado comprovou que seu serviço de defesa agropecuária está estruturado e robusto e que as etapas do cronograma estão sendo cumpridas, o Mapa aprovou a antecipação da retirada da vacina. Desta forma, o Paraná poderá solicitar o status de livre de febre aftosa sem vacinação junto à Organização Mundial da Saúde Animal em setembro de 2020, com o reconhecimento realizado na assembleia geral de maio de 2021.
"Na reunião comandada pelo Mapa houve um consenso de que a vacinação de maio seja a última no Paraná. De uma forma unânime, os serviços de defesa dos cinco Estados do Bloco V apoiaram o pleito da retirada da vacinação, o que demandará maior rigor no sistema de vigilância sanitária. É o coroamento de um trabalho de muitos anos, que exigiu investimentos milionários com grande proatividade do Sistema Faep/Senar-PR e que aumenta nossa responsabilidade na condução da excelência de sanidade no Estado", destacou o diretor-executivo do Fundepec, Ronei Volpi.
AUDITORIAS
Em 2018, o Mapa realizou as duas auditorias necessárias para que seja encaminhado o pedido do Paraná à Organização Mundial de Saúde Animal, e os resultados foram excelentes. O serviço de defesa agropecuária do Estado foi o mais bem avaliado do Brasil, melhor até que o de Santa Catarina, único Estado brasileiro reconhecido como área livre de febre aftosa sem vacinação.
O Paraná superou a pontuação da auditoria do Mapa em 48% dos quesitos e alcançou a pontuação necessária em 35%. Apenas 16% dos itens analisados ficaram abaixo da pontuação, o que gerou um plano de ação com nove itens, dos quais sete estão em implantação pela Adapar (Agência de Defesa Agropecuária do Paraná) e os outros dois em processo de finalização (contratação de fiscais para garantir o funcionamento pleno das barreiras sanitárias e a construção do posto de fiscalização sanitária em Campina Grande do Sul) para aprovação pela ANTT (Agência Nacional de Transportes Terrestres). (Foto: Faep)