Água: site diz que informações sobre contaminação são falsas
Nos últimos dias foram publicadas reportagens em diversos meios de comunicação sobre a contaminação de água de abastecimento por pesticidas. As matérias em tom alarmista foram reproduzidas e adaptadas em centenas de municípios. O pânico foi seguido por desmentidos e esclarecimentos das companhias de abastecimento em diferentes regiões do país.
O site Ciência e Tecnologia Agro (www.cet-agro.com.br) analisou o banco de dados do Ministério da Saúde (SISAGUA) e detectou não apenas divergências entre as informações divulgadas em reportagens com as existentes no SISAGUA, como também identificou manipulações nos dados.
Os valores máximos permitidos (VMP) de pesticidas foram estabelecidos por meio da Portaria N. 2.914 de 12.12.2011 (assinada pelo ex-ministro da Saúde Alexandre Padilha) e posteriormente consolidada na Portaria N. 5, de 28.10.2017.
Essa portaria de 2011 atualizou os indicadores que devem ser analisados na água por parte das companhias de abastecimento e determinou os parâmetros de sanidade: microbiológicos, pH, materiais orgânicos e inorgânicos, os valores máximos permitidos para resíduos de desinfetantes e para 27 ingredientes ativos de pesticidas. Onze dos quais se encontram em desuso no Brasil. O monitoramento da presença na água deve-se à persistência de algumas substâncias no ambiente.
METODOLOCIA
Nos resultados do SISAGUA são informados três tipos de análise: coleta da água no ponto de captação (antes de passar pelo tratamento), coleta na saída do tratamento (logo após ter sido tratada) e coleta no sistema de distribuição. Os resultados dos três tipos de coleta são inseridos e divulgados conjuntamente. Ocorre que para muitos casos, a depender das características do pesticida e dos procedimentos de tratamento aos quais a água é submetida em cada região, o pesticida pode ser adsorvido durante o tratamento, resultando em presença menor ou inexistente na água tratada.
A norma que estabeleceu os valores máximos permitidos para pesticidas não detalha a metodologia de análise que deve ser utilizada para cada ingrediente ativo, havendo a possibilidade de resultados diversos devido à falta de padronização de metodologias para identificação e qualificação dos pesticidas na água. A falta de padronização na metodologia torna os dados pouco comparáveis e suscetíveis, tanto de falsos negativos quanto de falsos positivos. Quem de nós nunca recorreu a um segundo exame para confirmar ou descartar o diagnóstico de uma doença?
O SISAGUA
O banco de dados do Ministério da Saúde é preenchido com as informações geradas pelas empresas de abastecimento de água, mas não há uma padronização no preenchimento das informações. Cada notificante decide, por exemplo, o número de zeros que agrega após a vírgula. A fim de exemplificar, para um micrograma(µg) constam no banco de dados números variáveis: 1. 1,0; 1,00; 1,000 e 1,0000. Verificamos que nas divulgações feitas, em muitos casos três zeros após a vírgula, foram considerados como "mil microgramas", quando na realidade trata-se de "um" µg.
A MANIPULAÇÃO
As notícias alardearam a contaminação da água por pesticidas divulgando conjuntamente resultados de amostras coletadas nos pontos de captação antes e após o tratamento, sendo que o tratamento pode reduzir a presença de pesticidas.
Os dados utilizados nas reportagens foram gerados durante quatro anos, de 2014 a 2017, no entanto os resultados das contaminações foram informados com se todas as contaminações tivessem ocorrido simultaneamente.
Os resultados das análises foram comparados à União Europeia, que não possui estabelecidos valores máximos por ingrediente ativo para água. A EU determinou que o limite para qualquer contaminante químico na água é o limite de detecção da metodologia analítica de 0,01 µg /L.
As reportagens não fizeram análise pormenorizada na qualidade da informação inserida no banco de dados, considerando valores normais como extrapolados devido ao número de zeros inseridos. Ainda informavam que dentre outros pesticidas, o glifosato estava associado à contaminação da água. Algumas reportagens informaram que foram identificadas oito amostras acima do valor máximo permitido. Outras apenas mencionam a contaminação.