No Domingo de Páscoa, País relembra morte de Tancredo
Este 21 de abril será marcado por uma coincidência paradoxal entre os brasileiros: a celebração do Domingo de Páscoa, uma das principais festas do Cristianismo, e o 34º aniversário da morte de Tancredo Neves, o acontecimento mais triste da história política nacional pela perda do maior símbolo da redemocratização do País, que se elegeu presidente da República e morreu antes de tomar posse.
Em 15 de janeiro de 1985, Tancredo venceu Paulo Maluf na última eleição indireta para a Presidência da República com larga margem de votos (480 contra 180 e 26 abstenções) após firmar com os brasileiros o compromisso de virar a página da história do País e dar fim ao ciclo comandado pelos militares.
Com esperança e ânimos redobrados, os brasileiros esperavam ansiosos a chegada do dia 15 de março de 1985, quando Tancredo assumiria os destinos da Nação e os militares voltariam para a caserna, após darem por cumprida a sua missão.
Mas o sonho começou a ruir quando faltavam apenas 12 horas para a grande festa com o internamento de Tancredo em um hospital de Brasília para uma cirurgia de emergência. Devido à impossibilidade do comparecimento do presidente eleito, foi dada posse ao vice José Sarney como chefe interino da Nação.
Da noite de 14 de março até a noite de 21 de abril, brasileiros de todas as regiões, raças e credos se envolveram em uma corrente de orações jamais vista pela recuperação de Tancredo. A esperança de tê-lo no comando do País, no entanto, acabou no feriado do dia 21, quando foi oficialmente anunciada a sua morte.
Tristeza e desesperança tomaram conta do Brasil e até o seu sepultamento, em 24 de abril, Tancredo recebeu homenagens de multidões de pessoas por todo o País. Sua morte frustrou o sonho de milhões de brasileiros que aguardavam as mudanças prometidas em campanha.
Sua indesejada morte veio acompanhada de uma série de teorias conspiratórias, inclusive uma de que ele teria sido atingido por um tiro durante missa na Catedral de Brasília depois de já enfermo e outra de que teria sido vítima de imperícia da equipe médica que o atendeu.
Tais teorias foram alimentadas pelo fato de a chamada linha dura das Forças Armadas não ver com bons olhos sua ascensão ao poder. Mas nada disso se confirmou. Na prática, Tancredo passou 38 dias agonizando e, neste período, se submeteu a nada menos que sete cirurgias para tratar uma diverticulite que evoluiu para infeção generalizada.
HISTÓRICO
Nascido em 4 de março de 1910 em São João Del-Rei (MG), Tancredo começou a vida como advogado e empresário, mas se notabilizou mesmo como político. Primeiro foi vereador e presidente da Câmara de sua cidade natal em 1935, dois anos mais tarde foi preso teve o mandato cassado com o advento do Estado Novo.
Com isso ele retornou à advocacia e em pouco tempo se tornou promotor público e empresário, mas voltou à política em 1947 se elegendo deputado estadual, mandato no qual foi um dos relatores da Constituição estadual mineira.
Em 1950 foi eleito deputado federal pela primeira vez. A partir de junho de 1953, exerceu os cargos de ministro da Justiça e de Negócios Interiores até o suicídio do presidente Getúlio Vargas. No ano seguinte se reelegeu deputado federal, mas abdicou do mandato 12 meses mais tarde para ser diretor do Banco de Crédito Real de Minas Gerais e posteriormente da Carteira de Redescontos do Banco do Brasil. Também foi secretário estadual de Finanças de Minas Gerais de 1958 a 1960, quando concorreu a governador e perdeu.
Com a instauração do regime parlamentarista, logo após a renúncia de Jânio Quadros, Tancredo foi nomeado primeiro-ministro do Brasil, função que ocupou de setembro de 1961 a julho de 1962. Depois, se reelegeu deputado federal em 1966, 1970 e 1974, senador em 1978 e governador de Minas em 1982.
Foi como governador que ele liderou uma grande mobilização nacional em prol do movimento Diretas Já. Com a derrota da emenda Dante de Oliveira, que consolidava esse anseio, foi escolhido para representar uma coligação de partidos de oposição reunidos na Aliança Democrática, aceitou e em 15 de janeiro de 1985 se elegeu presidente do Brasil pelo Congresso Nacional, mas morreu pouco mais de três meses depois.